O advogado Chen Guangcheng abandonou nesta quarta-feira (2) a embaixada dos Estados Unidos em Pequim e permanecerá na China sob um pacto mediado pela secretária de Estado americana, Hillary Clinton, que, segundo os ativistas denunciam, o dissidente aceitou após receber ameaças contra sua família.

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"Chen e o governo chinês - disse Hillary em comunicado - alcançaram vários entendimentos sobre seu futuro, incluindo a oportunidade de buscar uma melhor educação em um ambiente mais seguro", que, segundo altos funcionários do departamento de Estado confirmaram depois sob condição de anonimato, será em uma universidade do país "por vontade própria do advogado".

No entanto, a ativista chinesa Zeng Jinyan deu outra versão do ocorrido através de sua conta no Twitter, na qual assinalou que o advogado cego decidiu abandonar a embaixada dos EUA após ser ameaçado pelas autoridades do país asiático.

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Na mesma linha, o ativista Bob Fu, que dirige a organização americana China Aid e afirma ter ajudado Chen a escapar de sua prisão domiciliar na semana passada, assegurou em comunicado que o advogado autodidata acatou com "má vontade" a decisão de abandonar a legação americana.

Fu garante que as autoridades chinesas fizeram "ameaças sérias a membros de sua família" se o dissidente "se negasse a aceitar a oferta", e que os funcionários americanos "abandonaram Chen".

O advogado de direitos humanos Teng Biao transcreveu, também nas redes sociais, uma conversa que manteve com Chen e na qual, quando perguntado se foi coagido, o ativista responde: "Sim, é verdade. Esta tarde, em Chaoyang (no hospital)".

Apesar de, em princípio, Chen ter manifestado sua intenção de permanecer no país, diversos meios de comunicação assinalam que o advogado cego mudou de ideia após temer por sua vida e pela segurança de sua família.

Hillary Clinton, que aterrissou hoje em Pequim para participar do Fórum Estratégico e Econômico entre China e EUA, não quis dar detalhes sobre os "entendimentos" alcançados entre Chen e as autoridades chinesas, limitando-se a dizer que "transformar esses compromissos em realidade é a próxima e crucial tarefa".

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"O governo dos EUA e o povo americano estão comprometidos a seguir envolvidos com Chen e sua família nos dias, semanas e meses vindouros", ressaltou no breve comunicado.

As palavras de Hillary foram divulgadas horas depois que o governo chinês pedisse à legação americana que se desculpasse por ter amparado o ativista durante seis dias, confirmando, pela primeira vez desde a fuga de Chen no último dia 22 de abril, que ele tinha permanecido dentro da embaixada dos EUA.

Chen saiu nesta quarta-feira da legação americana para ingressar no Hospital de Chaoyang por volta das 15h30 locais (4h30 de Brasília), onde pôde reencontrar-se com sua mulher e filhos.

Por enquanto, não se sabe se ele e sua família já foram encaminhados para outro lugar ou se permanecem dentro do centro de saúde, embora centenas de jornalistas e dezenas de policiais sigam postados nas imediações à espera de sua possível saída.

Além disso, o centro se encontra infestado de agentes que chegam a controlar, inclusive, os elevadores, de modo que só se pode subir até o segundo andar - Chen passou o dia no nono - sob a tutela de seguranças.

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Anteriormente, segundo a Agência Efe pôde observar, o advogado foi levado em cadeira de rodas perante um forte dispositivo de segurança que, após afastar e ameaçar alguns jornalistas, lhes obrigou a sair do andar onde estava o ativista cego.

Antes de comparecer ao hospital, Chen conversou por telefone com Hillary Clinton, deu uma entrevista exclusiva ao jornal "The Washington Post" e ligou para seu amigo, o advogado Li Jinsong, a quem pediu que viajasse a Pequim para encontrar-se com ele, segundo esse último confirmou à Efe.

Chen, advogado autodidata que perdeu a visão aos cinco anos, foi detido em 2005 e condenado em 2006 a quatro anos e três meses de prisão após denunciar abortos e esterilizações forçadas, uma sentença criticada por organizações de direitos humanos, que a consideraram uma vingança das autoridades por seu ativismo.

O advogado foi solto em 2010, mas, desde então, sofreu junto de sua família uma severa prisão domiciliar ilegal em sua casa de Dongshigu, também em Shandong, da qual escapou no último dia 22 de abril para buscar refúgio na embaixada americana.

Sem que se saiba ainda em que termos práticos será cumprido o acordo sobre Chen, EUA e China se sentarão amanhã para negociar acordos econômicos e estratégicos que, supostamente, potencializarão as relações entre as duas principais potências mundiais.

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