Brasília (AFP) Brasil e Argentina anunciaram esta semana o pagamento antecipado de suas dívidas com o Fundo Monetário Internacional como já fizeram anteriormente Chile e México , numa decisão com a qual esperam obter benefícios econômicos e políticos. A possibilidade de melhorar seu grau de investimento, com condições mais vantajosas para sua dívida, além do conseqüente crédito político, aparece como um dos objetivos prioritários do governo de Luiz Inácio Lula da Silva. "Devolvemos o dinheiro para mostrar ao mundo e ao mercado que este país tem governo e é dono de si mesmo", disse Lula na quinta-feira, referindo-se ao pagamento adiantado de US$ 15,5 bilhões.
O secretário do Tesouro do Brasil, Joaquim Levy, não escondeu que para a economia brasileira "uma boa notícia para o fim do primeiro trimestre de 2006 seria o Brasil passar para BB (em vez de seu atual BB)", como grau de investimento. O governo argentino mostrou posição similar ontem, depois do anúncio do pagamento antecipado de sua dívida com o FMI de US$ 9,81 bilhões, ao sustentar que isso dará independência de decisão e converterá o país sul-americano em praça de investimento confiável. A medida "traz benefícios porque torna independente a tomada de decisões", disse o ministro do Interior da Argentina, Aníbal Fernández.
O presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Luis Alberto Moreno, se mostrou cauteloso sobre a possibilidade de a decisão ser imitada por outros países. "A situação financeira de cada país é única. É muito difícil recomendar uma política, digamos, generalizada", explicou. Mas as medidas adotadas por Brasília e Buenos Aires foram também recebidas com reservas e críticas. Lisa Schineller, especialista na classificação do Brasil para a agência Standard and Poors (SP), disse que, apesar "de ser um sinal muito bom" para o mercado, "esse pagamento não tem impacto importante quando olhamos para a relação da dívida com o ingresso de divisas". Raquel Fleury, analista da Consultora Tendências, admitiu que a medida "terá efeitos muito positivos no mercado", mas ressaltou que "é preciso avançar positivamente em outras áreas para que o investment grade (grau de investimento) melhore". Na Argentina, a decisão também despertou críticas, ainda que, por ora, minoritárias, como a do economista e deputado da central operária CTA, Claudio Lozano, que considera que "os recursos poderiam ser usados para o desenvolvimento interno".
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