Curitiba – A Argentina quer gerar empregos, o Chile concentra-se em melhorar a qualidade do ensino médio, a Venezuela preocupa-se com o combate à pobreza, que cresceu nos últimos anos. Esses são alguns dos focos dos governos latino-americanos na busca das Metas do Milênio, um conjunto de objetivos na área de desenvolvimento humano, traçados há cinco anos pela Organização das Nações Unidas (ONU). As metas devem ser atingidas até 2015 pelos 191 países signatários do acordo – uma missão que, no caso da América Latina, tem encontrado na desigualdade desafios adicionais.

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Em cinco anos, as metas tornaram-se um marco em torno do qual criou-se uma agenda mundial de desenvolvimento. Ou seja, foco para a ação social, na promoção dos direitos humanos, em todas as frentes para a redução da pobreza humana, comenta Marielza Oliveira, coordenadora da Unidade de Parcerias Estratégicas do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) no Brasil. "Os esforços começam a se concentrar. Neste período a população mundial cresceu em 800 milhões de pessoas, e temos 300 milhões a menos abaixo da linha de miséria. Os oito objetivos são interligados visando o mínimo de dignidade para todos".

É do bom desempenho econômico e da estabilidade política que depende o avanço da América Latina em relação ao cumprimento das metas nos próximos anos. A perspectiva é otimista, mas cautelosa, diz Carlos Mussi, da Comissão Econômica para América Latina e o Caribe (Cepal) no Brasil. Na Argentina, em decorrência da crise econômica do fim dos anos 90, diz Mussi, o índice de extrema pobreza se elevou de 8,2% em 1990 para 16,9% em 2004. Já na Venezuela foi a crise política que fez subir o percentual de pobres de 14,9% em 1990 para 22,2% em 2004.

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Outro entrave, no caso latino-americano, aponta Mussi, é a desigualdade de renda, acesso ao poder na sociedade, e que coloca em jogo a estabilidade política da região. "O Brasil, por exemplo, está em boa posição e deve manter a política de programas sociais aliada a manutenção da taxa de crescimento econômico como meta para a estabilidade."

Um indicador que está ligado à renda é chave para entender os problemas continentais. "De modo geral, o calcanhar-de-Aquiles da região é o saneamento", diz Mussi. Estudos dizem que um avanço de um ponto percentual no saneamento implica uma redução igual na mortalidade infantil.

No relatório da Cepal sobre as Metas do Milênio, divulgado este ano, a América Latina conquistou avanços na redução da mortalidade infantil. Além disso, se destacou no contexto mundial pelo ritmo acelerado da queda do índice, sendo considerada a menor taxa do mundo em desenvolvimento (25,6 a cada mil nascidos vivos). Na frente de África (93,6) e Ásia (53,1).

Marielza ressalta que os países mais pobres estão mais pobres, principalmente na África Subsaariana. "A renda diária dos mais pobres caiu de US$ 62 centavos para 60. O processo de desenvolvimento precisa ser acelerado, mas depende cada vez mais de ajuda internacional".

O problema da aids na África não se reduz na velocidade necessária, avalia Marielza. "Em Botsuana, 40% da população tem o vírus." As Nações Unidas levam em consideração o aumento da ajuda oficial de desenvolvimento, mas "os países pobres precisam de ajuda mesmo, enquanto países de situação econômica ‘mediana’, como o Brasil, precisam de comércio justo."

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No cenário asiático, a China tende a alcançar boa parte das Metas do Milênio, apesar de ser considerada um dos maiores violadores dos direitos humanos no mundo, avalia Lúcia Nader, coordenadora de Relações Internacionais da ONG Conectas Direitos Humanos. "Para os chineses é fácil reduzir indicadores, mas em um cenário contraditório."