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Espionagem

América Latina na mira da CIA

A missão prioritária do novo diretor da CIA (agência central de inteligência americana) será reforçar o quadro de espiões e recrutar novos informantes em várias partes do mundo — em especial na América Latina. Uma ordem nesse sentido foi emitida pelo próprio presidente George W. Bush.

Por trás dela, no caso específico dessa região, está a crescente preocupação americana com o que seus analistas têm definido como "o populismo radical" encarnado pelo presidente da Venezuela, Hugo Chávez, que trata de disseminá-lo nas Américas do Sul e Central com o poder dos petrodólares faturados por seu governo.

— Não queremos que as pessoas vejam tudo sob o prisma de Hugo Chávez e da Venezuela — disse a secretária de Estado, Condoleezza Rice, dias atrás, em palestra na Conferência de Editorialistas de Jornais dos EUA.

Num informe específico ao Senado sobre os riscos que correm os interesses dos EUA na região, o chefe do Comando Sul do Pentágono, general Bantz Craddock, que tem jurisdição em toda a América Latina — onde também está se tornando mais ativa a espionagem militar dos EUA — mencionou o governo da Venezuela como a causa de "um efeito desestabilizador" na área. E arrematou:

— Hugo Chávez está exportando aquilo que nós agora, de forma certa ou errada, conhecemos como populismo radical. Com democracias imaturas e instáveis, esse é um aspecto problemático.

Antes que a nomeação do general Michael V. Hayden para a CIA seja aprovada pelo Senado, e ele implemente na agência o plano de Bush, algumas providências para usar mais espiões vêm sendo tomadas por John Negroponte em outras unidades. Ele comanda a Diretoria de Inteligência Nacional (DNI), que coordena e supervisiona as outras 15 agências civis e militares de inteligência dos EUA.

Tríplice fronteira também preocupa

Após contar que tenta integrar as operações de espionagem civil e militar, e dizer que Bush determinou um aumento da espionagem tradicional Negroponte revelou:

— Estamos reforçando o quadro em lugares onde permitimos que as coisas se atrofiassem após o fim da Guerra Fria: América Latina e África.

A formação de um eixo entre Chávez, Fidel Castro, em Cuba, e Evo Morales, na Bolívia, reforçou a urgência do recrutamento de informantes na América Latina e do envio de um número maior de espiões para a região.

— Temos sabido das coisas muito tarde. Têm nos faltado informações de boa qualidade a respeito dos planos e movimentações desses três populistas demagogos. E não podemos nos dar ao luxo de vê-los envenenando uma região que é importante para nós tanto do ponto de vista do comércio como da geopolítica — disse ao GLOBO um analista do governo americano.

Até aqui os EUA vinham usando basicamente a espionagem eletrônica, com satélites e sensores registrando movimentos de grupos, grampeando telefonemas, e-mails, faxes e sinais de rádio. Segundo o general Craddock, suas unidades de inteligência passaram a observar mais atentamente o governo venezuelano e a buscar informações nas vizinhanças.

— Estamos conversando com vizinhos da Venezuela, trocando informações com eles — disse, destacando que uma das coisas que tiram o seu sono é o fato de Chávez estar montando uma milícia armada com cerca de dois milhões de militantes.

Chávez, Fidel e Morales são os três rostos das preocupações americanas. Mais que os ataques verbais e atitudes expansionistas de sua política antiamericana, o que incomoda os EUA é o fato de a região ser uma de suas principais fontes de petróleo, além de potencial refúgio de terroristas internacionais (com convenientes conexões com o narcotráfico).

Por isso, tanto a fronteira dos EUA com o México como a Tríplice Fronteira (entre Brasil, Argentina e Paraguai) são temas dos quais os espiões americanos se ocuparão cada dia mais.

— Essa área é um convite aos terroristas, devido à sua combinação de descontrole, pobreza, atividades ilícitas, grupos desconectados, forças de segurança e militares mal equipados e democracias frágeis — diz o tenente-coronel Phillip Abbott, do Exército.

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