O atual presidente Barack Obama e o vice, Joe Biden, comemoram a reeleição em 2012.| Foto: Jim Bourg

Nesta segunda-feira será dado o pontapé inicial das eleições presidenciais americanas de 2016. No estado de Iowa, no meio-oeste americano, serão realizadas as primeiras primárias dos partidos Democrata e Republicano. As primárias servem para que os dois principais partidos dos Estados Unidos escolham seus candidatos definitivos para as eleições, marcadas para o próximo dia 8 de novembro.

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Entenda em 7 passos as primárias dos Estados Unidos.

CALENDÁRIO

Pontapé inicial

Em primeiro de fevereiro, começam as primárias com os Iowa Caucuses, em um dos principais “swing states”. New Hampshire, outro swing state, terá primárias no dia 9. Outra primária importante é a da Carolina do Sul. Republicanos, que consideram essa primária decisiva, farão a votação no dia 20. Democratas, no dia 27.

Superterça

O dia primeiro de março será a chamada “superterça”. Democratas irão escolher seu candidato em 11 estados, e republicanos em 14. Clima deve esquentar entre os republicanos. Neste dia será realizada as primárias no Texas, o maior dos “red states” – estados dominados pelo partido.

15 de março

Em dois dos mais populosos “swing states”, Florida e Ohio, as primárias serão realizadas por ambos os partidos no dia 15 de março, também uma terça-feira. Tratam-se de estados com um número grande de delegados e que serão decisivos no final do ano. Logo, uma vitória aqui vale ouro para candidatos de ambos os partidos.

Abril e maio

Em abril, primárias serão realizadas em alguns dos principais “blue states”, incluindo Nova York – um bom indicativo de quem será o candidato democrata. Um swing state importante, Pensilvânia, fará suas primárias no dia 26 de abril.

7 de junho

Democratas e republicanos farão suas últimas cinco primárias no dia 7 de junho. A principal delas será no estado da Califórnia – estado mais populoso do país, e majoritariamente democrata.

Convenções nacionais

A última etapa da nomeação dos candidatos é a convenção nacional. Lá, as delegações de cada estado darão seus votos a um pré-candidato, e o vencedor disputará as eleições no dia 8 de novembro. A convenção republicana será de 18 a 21 de julho, em Cleveland. A democrata será na semana seguinte, do dia 25 ao 28, em Filadélfia.

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Iowa é um estado relativamente pequeno e pouco populoso, com apenas 3 milhões de habitantes – logo, longe de ser uma potência eleitoral como a Califórnia ou o Texas. Entretanto, desde 1972, é ali que o processo eleitoral começa – e um bom desempenho é considerado fundamental para o sucesso nas primárias seguintes.

A grande diferença é o modelo de votação. Ao contrário da maioria dos outros estados, nos quais os eleitores simplesmente vão as urnas e decidem seus candidatos, há em Iowa o que se chama de cáucus. Os moradores se reúnem em locais públicos e debatem não só os pré-candidatos, mas as propostas dos postulantes à presidência.

Assim, é possível ter uma ideia mais clara das tendências do eleitorado americano e da força real de cada pré-candidato. Um postulante ignorado nas pesquisas anteriores pode surpreender com uma plataforma que agrada o partido, e se firmar na disputa. Ou, o contrário, um pré-candidato aparentemente popular não convence, e fica em segundo plano.

Além disso, vale destacar que Iowa é um “swing state”. Nos últimos 30 anos, as posições de democratas e republicanos se consolidou na maioria dos estados – independente do candidato, é difícil que um republicano emplaque em Nova York, ou um democrata ganhe no Alabama. Iowa é um dos poucos onde essa divisão não é tão clara – e, como a eleição se dá por colégio eleitoral, os poucos votos de Iowa podem, na verdade, definir o presidente.

Os candidatos

No lado democrata, a disputa está polarizada entre o senador Bernie Sanders, considerado um pré-candidato à esquerda de Barack Obama e do resto do partido, e a ex-senadora Hillary Clinton, mulher do ex-presidente Bill Clinton, considerada uma pré-candidata também liberal (na acepção americana do termo), mas mais moderada.

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Já no lado republicano, a disputa está embolada. O bilionário Donald Trump, com posições consideradas extremas em relação à imigração e à política externa, lidera as pesquisas. Os senadores Ted Cruz e Marco Rubio, também conservadores mas com ascendência hispânica e posições mais moderadas quanto à imigração, estão na segunda e terceira colocação respectivamente. Corre por fora o ex-governador da Florida Jeb Bush, irmão do ex-presidente George W. Bush, considerado moderado.

7 questões para entender as primárias dos Estados Unidos

Cáucuses? Colégio eleitoral? Delegados? Da primeira primária ao último minuto da apuração, as eleições americanas são sempre fonte de confusão para quem não vive nos Estados Unidos. O formato das eleições por lá é diferente de boa parte do mundo: como há 50 estados, na prática, são 50 eleições simultâneas, cada uma com suas regras e suas disputas particulares.

Para tentar facilitar o entendimento das regras, mais confusas do que um jogo de baseball, a reportagem da Gazeta do Povo fez uma lista com sete questões importantes sobre as primárias, que começarão a ser realizadas nesta segunda-feira. Saiba o que estará em jogo neste primeiro semestre.

1. Como funcionam as eleições primárias?

Ao longo do primeiro semestre, democratas e republicanos vão às urnas para eleger quem será o candidato do seu partido nas eleições presidenciais, que ocorrem no segundo semestre. Esse processo é feito estado por estado.

Em linhas gerais, cada estado tem um número definido de delegados do partido que votam na convenção nacional, proporcional a seu eleitorado. Nas primárias, os eleitores de cada estado decidem em quem seus delegados irão votar nas convenções nacionais, que serão realizadas em julho.

2. Quem pode votar?

As regras variam de estado para estado e de partido para partido. Em alguns casos, as eleições são restritas a filiados ao partido. Em outras, são abertas. Em Iowa, por exemplo, a votação dos republicanos é restrita a eleitores registrados ao partido, enquanto eleitores não registrados podem votar nas primárias democratas.

3. Por que Iowa e New Hampshire são importantes?

Iowa e New Hampshire são estados com poucos eleitores, mas suas primárias são consideradas mais importantes do que as da Califórnia ou do Texas. Isso acontece por dois motivos: primeiro, por serem as primeiras, elas dão o tom da disputa e medem a reação real do eleitorado às candidaturas.

Além disso, os dois estados têm um eleitorado bastante dividido entre republicanos e democratas. Por causa da regra do colégio eleitoral, eles acabam sendo lugares onde a campanha pega fogo, ao contrário de outros estados com eleitorado mais sedimentado. Medir a resposta do eleitorado nesse tipo de lugar é fundamental para planejar o resto da campanha.

4. Quão importante é vencer essas primárias?

Não muito. O essencial, aqui, é se mostrar um candidato viável, não necessariamente ganhar. Nas últimas eleições, por exemplo, Rick Santorum teve a maioria do voto popular em Iowa, mas um desempenho fraco em New Hampshire. Mitt Romney e Ron Paul, que foram bem nas duas, polarizaram a disputa – Romney acabou sendo o candidato.

Entre os democratas, Bill Clinton fez apenas 3% em Iowa em 1992, mas conseguiu um segundo lugar surpreendente em New Hampshire. A partir daí, deslanchou, virou candidato e se elegeu presidente no final do ano.

5. O que é colégio eleitoral?

Ao contrário do Brasil, a eleição nos Estados Unidos é indireta. O eleitorado de cada estado é representado por delegados, proporcional a sua população. Para decidir quem foi eleito presidente, conta-se o número de delegados que cada candidato conseguiu, e não o número de votos.

Cada estado tem sua regra para definir o voto de seus delegados. Entretanto, em 48 dos 50 estados, vale o “winner takes all”. Digamos que um estado tem cem delegados. Independentemente do resultado real das eleições, o vencedor tem o voto de todos os cem delegados do estado – ou seja, não faz diferença se for 51% a 49%, ou 99% a 1%. As únicas exceções são os pouco representativos Maine e Nebraska.

Na prática, isso significa que um candidato pode ser eleito tendo perdido no voto popular. Isso já aconteceu em quatro ocasiões na história – a mais recente foi a vitória do republicano George W. Bush sobre Al Gore, em 2000.

6. O que são red, blue e swing states?

Nos últimos 30 anos, há uma crescente polarização e solidificação de posições entre estados republicanos e estados democratas. Desde 1992, estados como Califórnia e Nova York elegem apenas democratas, enquanto o Texas elege somente republicanos, quase sempre com larga vantagem. Estados pró-democratas são chamados de “blue states” e estados pró-republicanos são os “red states”.

Há, porém, alguns estados onde essa polarização não chegou. Lá, as eleições costumam ser decididas por uma margem pequena, e não há prevalência de um ou outro partido – os principais são Florida, Pensilvânia e Ohio. São os chamados “swing states”.

Como partem de eleições praticamente ganhas em seus rincões eleitorais, ambos os partidos costumam centrar fogo nos “swing states”, porque são eles que definem, de fato, quem será eleito. Assim, as primárias e, posteriormente, a campanha eleitoral de fato acaba ficando concentrada onde o voto é mais incerto.

Isso acontece, até certo ponto, no Brasil: nas eleições passadas, Dilma Rousseff e Aécio Neves centraram fogo em Minas Gerais, uma espécie de “swing state” brasileiro. A diferença é que, no caso americano, a margem da vitória em cada estado é irrelevante – ou seja, vale a pena simplesmente abandonar a campanha em um estado perdido para apostar todas as fichas em outro. No caso brasileiro, de nada adianta ganhar o swing state por pouco e perder no rincão adversário de goleada, o que suaviza esse efeito de concentração de campanha.

7. O modelo americano de primárias é bom? Algo parecido poderia ser aplicado no Brasil?

As primárias, em si, são uma coisa boa. Elas permitem que a população participe ativamente do debate das políticas públicas, e serve para que os candidatos “refinem” seus planos de governo de acordo com as necessidades e vontades do seu eleitorado. É um sistema muito mais democrático do que as decisões dos partidos brasileiros – que, na ampla maioria dos casos, escolhe seus candidatos internamente, sem qualquer discussão pública.

Há, porém, os problemas. Primeiro, elas elevam radicalmente o custo das campanhas. Reportagem do New York Times de outubro do ano passado mostrou que, antes mesmo das primárias começarem, Jeb Bush já havia arrecadado US$ 133 milhões – com a cotação atual do dólar, mais dinheiro que as campanhas de Dilma Rousseff e Aécio Neves somadas. E salvo algumas exceções, a maioria das candidaturas é financiada quase exclusivamente por grandes empresas.

Além disso, o formato das primárias americanas acaba sendo definido pelo próprio sistema eleitoral americano, que é, na prática, bipartidário. Difícil imaginar, com tantos partidos relevantes, um sistema parecido no Brasil.