As eleições de meio de mandato americanas estão sendo consideradas um referendo sobre o presidente Trump. A primeira votação nacional durante o mandato de Trump dá a largada para a corrida eleitoral de 2020.
A abordagem de Trump em seu governo tem levado apoiadores e opositores em grandes números às urnas nesta eleição, que determinará o controle do Congresso americano pelos próximos dois anos. Os relatos são de que os eleitores têm comparecido para votar em números maiores do que os de costume - o voto não é obrigatório no país.
Os resultados dessa votação, que devem ser divulgados nesta quarta-feira, podem mudar o equilíbrio do poder em Washington, ou deixar os democratas pensando por que perderam novamente. De qualquer maneira, a política americana tem impactos no mundo inteiro, inclusive no Brasil.
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O que está em jogo
Atualmente, os republicanos têm o controle das duas câmaras do Congresso. Nesta eleição, estão sendo disputadas apenas 35 das 100 cadeiras do Senado, e todas as 435 cadeiras da Câmara de Representantes (que equivale à Câmara dos Deputados no Brasil).
Os eleitores decidirão também sobre o governo de 36 estados e centenas de cargos legislativos estaduais.
Espera-se que os republicanos mantenham o controle do Senado e percam a Câmara para os democratas, embora nenhum cenário esteja descartado.
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Para ganhar o controle do Congresso, os democratas precisam de um ganho líquido de 23 assentos na Câmara e de dois assentos no Senado. Os últimos são o maior desafio para os democratas, que disputam dez assentos em estados que elegeram Trump em 2016.
Quais as previsões?
As previsões divulgadas antes da eleição diziam que as chances de vitória democrata na Câmara eram de 6 em 7 (ou 85,8%). Já as chances de que os republicanos mantivessem o controle do Senado eram de 5 em 6 (ou 82%). Os números foram divulgados pelo site de análise política FiveThirtyEight, coordenado pelo estatístico Nate Silver, que ficou conhecido por ter previsto com sucesso os resultados das eleições presidenciais americanas de 2008.
Quando os resultados serão divulgados?
As projeções de vencedores não podem ser divulgadas até que todas as seções eleitorais sejam fechadas. Assim, os anúncios relativos aos estados sairão à medida que as zonas forem fechadas – o que deve acontecer, no horário de Brasília, entre 22h, para os estados da Costa Leste, e 4h da manhã de quarta-feira (7), quando a votação se encerrar no Alasca.
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Problemas na votação
Grupos de direitos civis e oficiais das eleições encaminharam milhares de relatos de irregularidades na votação pelo país nesta terça-feira. Eleitores reclamaram de máquinas quebradas, cédulas rejeitadas e funcionários dos locais de votação sem treinamento, que atrapalharam o direito ao voto dos cidadãos americanos.
Uma coalizão de organizações de direitos eleitorais informou, em entrevista coletiva em Washington, ter recebido mais de 10 mil ligações até as 11h30 – um volume maior de chamadas do que em qualquer eleição de meio de mandato recente – e encaminhou muitas delas a autoridades eleitorais estaduais e locais. Juntas, as organizações enviaram cerca de 6.500 advogados e monitores em 30 estados para proteger o acesso às urnas – mais do que em qualquer eleição anterior.
No estado da Geórgia, os eleitores esperaram mais de quatro horas para votar em uma escola primária no subúrbio de Atlanta, onde algumas máquinas de votação não estavam funcionando no início do dia. Relatos de máquinas quebradas também surgiram em Nova York e Arizona.
“Isso foi supressão de eleitores”, disse Takeye Seenze, 35 anos, uma motorista de caminhão que disse ter visto cem eleitores deixarem uma escola depois de descobrirem que as máquinas de votação não estavam funcionando. Seenze disse que chegou às 7 da manhã e encontrou uma longa fila. A votação no local não começou antes das 11 da manhã.
Em Dakota do Norte, um advogado de direitos de voto disse que dezenas de eleitores nativos americanos estavam sendo rejeitados por causa de problemas com sua identificação. Os funcionários dos locais de votação rejeitaram a identificação emitida por autoridades tribais, aconselhando os eleitores a não votarem, embora a lei o exija, e desencorajando os eleitores a preencherem um voto provisório quando chegavam sem a devida identificação, segundo Carla Fredericks, diretora da Clínica Jurídica Indígena da Universidade do Colorado.
Também surgiram reclamações de máquinas de votação que alteraram as escolhas dos eleitores na Pensilvânia, Carolina do Norte, Texas e Illinois, e de eleitores que falavam inglês limitado sendo impedidos de trazer um intérprete para votar com eles, conforme exigido pela Lei de Direito ao Voto.
No período que antecedeu as eleições, uma série de preocupações sobre o acesso às urnas surgiu em todo o país. Candidatos de ambos os partidos trocaram acusações sobre ameaças à integridade do voto em meio a múltiplos relatos de irregularidades na votação.
O presidente Trump e o procurador-geral Jeff Sessions alertaram na segunda-feira (5) contra fraude eleitoral, apesar de vários estudos mostrarem que não há evidências de fraude eleitoral generalizada. Os defensores dos direitos do voto os acusaram de tentar intimidar eleitores não-brancos.
Republicanos x Democratas
Em meio à ameaça de uma onda democrata no Congresso, a forte chuva que caiu durante a manhã e a temperatura de pouco mais de 10ºC não foram capazes de desanimar os simpatizantes de Trump a irem às urnas.
A aposentada Gail Tabor, 61, vota em todas as eleições, mas sentiu uma empolgação a mais para participar neste ano. “Eu tenho gostado do rumo que o país tem tomado sob Trump, e quero que continue assim”, disse, em frente a uma seção eleitoral em Stafford.
Ela apoia, principalmente, a política externa de Trump e os cortes de impostos promovidos pela administração. A reação negativa contra a aprovação do juiz conservador Brett Kavanaugh, acusado de abuso sexual, para a Suprema Corte também serviu de gatilho para a participação de Tabor no pleito legislativo.
“Foi horrível o que aconteceu, muito desrespeitoso”, disse, referindo-se ao turbulento processo de confirmação do magistrado para a mais alta corte do país. “Foi um ataque por parte dos democratas, que agiriam da mesma forma com qualquer indicado pelo presidente”.
O curioso é que ela já foi democrata e deixou de votar no partido após as “ações imorais” do ex-presidente democrata Bill Clinton contra mulheres.
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Em Nova Iorque, tradicional reduto democrata, muitos eleitores saíram de casa para expressar o seu descontentamento com a administração Trump. Naimatu Mohammed, 35, avalia que a divisão nos EUA piorou desde que o republicano assumiu, em janeiro de 2017. “Esse país está cheio de ódio, tem muita discriminação, é um país dividido em dois. Temos o lado negro, e o branco”, diz.
“Eu quero votar porque as coisas que estão acontecendo agora, precisamos de uma mudança. A política está saindo do controle, precisamos de pessoas melhores que venham para mudarmos para melhor”.
Menos otimista está Elis Norris, 76. Para ela, o resultado da eleição não deve trazer muita mudança no cenário político americano. “Eu não espero que alguma coisa mude para melhor. A maioria dos políticos não faz nada por pessoas que não se pareçam com eles”.
Norris diz que Trump reflete a mentalidade de muitos americanos. “Você tem que ser um ignorante, um tolo, em achar que eles deixariam uma mulher [Hillary Clinton] se tornar presidente”, afirma. “Tem muitas pessoas que sentem dessa maneira que ele se sente”.
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