Os Estados Unidos enviarão uma equipe de técnicos para responder a perguntas do governo do Brasil sobre a denúncia de espionagem de telefonemas e transmissões de dados do país. Foi o que anunciou ontem o embaixador dos EUA no Brasil, Thomas Shannon, convocado para conversa com o ministro das Relações Exteriores brasileiro, Antônio Patriota.
De acordo com o Ministério das Relações Exteriores, os norte-americanos reconheceram como legítimo o pleito brasileiro eles concordam que, se houve mesmo espionagem, o país tem todo o direito de reclamar, como faz.
No entanto, em nenhum momento os EUA admitiram haver praticado espionagem ou cometido qualquer ilegalidade. O gesto de enviar técnicos ao Brasil foi a resposta formal a uma nota escrita entregue pelo governo brasileiro aos EUA na segunda-feira, parcialmente reproduzida em comunicado divulgado ontem pela presidente Dilma Rousseff.
O texto fala, claramente, em acusações de espionagem e afirma que o país "não autorizou nem tinha conhecimento das atividades denunciadas" e que eventual participação de cidadãos, empresas ou instituições brasileiras em espreita configura crime.
A nota afirma ainda que o Brasil pode pedir informações adicionais aos americanos. A administração brasileira pretende engrossar a pressão internacional sobre as denúncias de espionagem na reunião de cúpula do Mercado Comum do Sul (Mercosul), marcada para amanhã, em Montevidéu.
"Essa oportunidade [da reunião da cúpula do Mercosul] não será desperdiçada", afirmou ontem Patriota, em reunião na Comissão de Relações Exteriores do Senado. A preocupação nos bastidores da reunião é evitar que saia uma declaração em tom antiamericano, sobretudo porque outros países da região também foram espionados.
A estratégia nacional é angariar apoio do Mercosul para impulsionar discussões sobre segurança cibernética no âmbito da Organização das Nações Unidas (ONU).
Segundo o ministro das Relações Exteriores, o Brasil foi o único país alvo de suposta espionagem a tomar iniciativa de acionar o sistema multilateral para tratar da questão. Na reunião com os senadores, Patriota mostrou que a vigia secreta viola diversos acordos internacionais.