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Cozimento de tubérculos resutou em ganho de energia para nossos antepassados | Scrivani,Andrew/for The New York Times
Cozimento de tubérculos resutou em ganho de energia para nossos antepassados| Foto: Scrivani,Andrew/for The New York Times

Você é o que você come, e o mesmo se aplicava a nossos antepassados distantes. Mas não é fácil definir o que eles comiam de fato.

Não existem livros de receitas do Pleistoceno que possamos consultar. Em vez disso, os cientistas são obrigados a analisar pistas diversas, como resquícios de substâncias químicas em ossos fossilizados.

Os cientistas reconhecem há anos que a dieta de nossos ancestrais passou por uma mudança profunda com o acréscimo da carne. No entanto, na edição de setembro da “The Quarterly Review of Biology”, pesquisadores argumentam que outro item adicionado ao cardápio pré-histórico foi igualmente importante: os carboidratos. Com a incorporação de amido cozido em sua dieta, nossos ancestrais puderam impulsionar a evolução de nossos cérebros, propõem os cientistas.

Cerca de 7 milhões de anos atrás, nossos ancestrais se separaram dos símios. Em dado momento, esses chamados homininos começaram a cozinhar a carne. Exatamente quando eles dominaram o fogo é uma questão ainda debatida.

A carne cozida forneceu mais proteínas, gordura e energia, ajudando os homininos a se fortalecerem. No entanto, Mark G. Thomas, geneticista evolutivo do University College London, e seus colegas argumentam que outro alimento importante era cozido nas fogueiras pré-históricas: tubérculos e outras plantas com amido.

Nosso corpo converte o amido em glicose, o combustível do corpo. O processo tem início assim que começamos a mastigar: a saliva contém uma enzima chamada amilase, que inicia a decomposição dos alimentos ricos em amido.

Mas a amilase não atua tão bem com amidos crus, sendo bem mais eficaz com alimentos cozidos. Thomas observou que o cozimento dos tubérculos silvestres os tornava muito mais nutritivos, “algo nada desprezível, especialmente para quem era um caçador e coletor faminto do Pleistoceno”.

Outra pista que revela a importância dos carboidratos, disse, pode ser encontrada em nosso DNA.

Os chimpanzés possuem duas cópias do gene da amilase em seu DNA. Mas os humanos têm muito mais cópias. A presença de mais cópias do gene da amilase significa que produzimos uma quantidade maior da enzima e somos capazes de aproveitar mais nutrientes dos alimentos ricos em amido.

As mutações que deram amilase extra aos humanos os ajudaram a sobreviver, e essas mutações se alastraram graças à seleção natural. Essa glicose, para Thomas, forneceu o combustível necessário para o desenvolvimento de cérebros maiores.

O registro fóssil revela uma aceleração drástica no tamanho dos cérebros dos homininos, algo que teve início há aproximadamente 800 mil anos. Hoje nosso cérebro consome até um quarto das calorias que queimamos. Outros especialistas, disseram Thomas e seus colegas, reuniram muitas evidências convincentes da importância dos carboidratos para a evolução.

Ainda assim, Thomas não se dispõe a dar conselhos de dieta com base nesta teoria da evolução. “Acho que a biologia evolutiva pode ter muito a dizer sobre a alimentação e a saúde”, explicou. “Mas a nutrição é incrivelmente complexa, e até agora apenas arranhamos a superfície.”

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