La Paz – Três dias depois de a Venezuela anunciar US$ 100 milhões de ajuda à Bolívia, o ministro das Relações Exteriores do Brasil, Celso Amorim, desembarcou ontem em La Paz. Sua principal missão será deixar claro para o presidente boliviano, Evo Morales, num encontro marcado para as 15 horas de hoje (16 h em Brasília), que o Brasil mantém seu projeto de cooperação de longo prazo e que também torce pelo desenvolvimento de outros segmentos no país vizinho, como fez o presidente venezuelano, Hugo Chávez.

CARREGANDO :)

Apesar de ter ocupado as instalações da Petrobrás Bolívia em 1.º de maio com o Exército e de querer assumir o comando da empresa com a compra de 51% das ações, La Paz conseguiu inverter o jogo diplomático, com a interferência da Venezuela. Agora, além de não reagir contra a nacionalização do setor energético, o Brasil precisa demonstrar boa vontade diante do governo boliviano para manter sua liderança na América do Sul, ou pode jogar La Paz nos braços de Chávez.

Nem tudo serão concessões. Amorim vai indicar que esse sinal de boa vontade do Brasil somente será efetivado com a adoção de um marco de segurança jurídica, o ressarcimento do patrimônio da Petrobrás no país e o tratamento digno aos brasileiros que venham a ser afetados por sua reforma agrária, anunciada na última semana e financiada pela Venezuela.

Publicidade

O fato de apenas 15% das propriedades de terra serem regulares na Bolívia preocupa Brasília, assim como a situação dos cerca de 7 mil brasileiros estabelecidos como posseiros na região do Pando, no Norte boliviano.

Amorim ainda deixará claro a Morales que o Brasil não pretende jogar um braço de ferro com a Bolívia. Entretanto, prosseguirá com suas iniciativas de buscar a auto-suficiência de gás natural e a diversificação de suas fontes de energia. "Embora o governo boliviano diga o contrário, a transferência de propriedade da Petrobras é uma expropriação. Mas se houver indenização, não será tão dramática", disse o chanceler, que desembarcou no início da tarde em La Paz, otimista ao encontrar um comportamento mais brando das autoridades bolivianas.

O encontro entre Morales e Amorim será no Palácio Queimado e terá a participação do ministro da Casa Civil boliviano, Juan Rámon Quintana. Antes dessa reunião, o ministro brasileiro deve discutir por três horas com seu colega boliviano, David Choquehuanca. As negociações incluem ainda reunião com o ministro do Planejamento e chefe do Gabinete Econômico, Carlos Villegas.