Na condição de "livre pensador", o ex-chanceler Celso Amorim criticou ontem a linguagem ambígua da resolução do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre a criação da zona de exclusão aérea na Líbia e apoiou a decisão do governo Dilma Rousseff de se abster na votação do tema. A resolução, resumiu ele, não trouxe limites para a ação militar. Pouco antes Amorim apontara o Oriente Médio como a região onde há a maior ameaça para o mundo na área de proliferação nuclear e considerou como "peça realmente importante" a transformação política do Egito.
"Não me cabe ser paternalista nessa questão, mas acho que, nas duas votações sobre a Líbia, o Brasil votou corretamente", afirmou. "No caso das sanções, porque havia um morticínio imediato. Também fez bem em se abster na votação da zona de exclusão aérea pela linguagem ambígua, que os próprios americanos reconheceram existir", disse depois de uma exposição na Conferência sobre Política Nuclear Internacional, promovida pelo Carnegie Endowment for International Peace.
Avesso a sanções, Amorim aceitou e justificou sua aplicação no momento em que foi revelado o massacre de civis pelo governo de Muamar Kadafi. Mas a decisão do Conselho de Segurança sobre a intervenção militar teria ultrapassado o limite da proteção aos cidadãos para lançá-los em uma guerra civil. Para ele, a iniciativa empurrou o líder líbio a posições mais radicais. "Supondo que Kadafi seja mesmo um monstro selvagem, era preciso deixar aberta uma porta para ele sair", aconselhou. "A situação é muito complexa."
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