La Paz – A viagem do ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, à Bolívia serviu para normalizar as relações diplomáticas, mas não trouxe avanços nas negociações bilaterais. O governo de La Paz não garantiu o pagamento de indenização à Petrobrás pela nacionalização dos hidrocarbonetos, decretada dia 1.º, nem desistiu de elevar os preços do gás.

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No fim da visita de dois dias ao país vizinho, Amorim falou com o presidente boliviano, Evo Morales, e com o chanceler de La Paz, Davids Choquehuanca. Deixou claro que o Brasil ainda não engoliu a maneira como foi anunciado o decreto de nacionalização dos setores de gás e petróleo e, em especial, a ocupação militar das instalações da Petrobrás na Bolívia.

Amorim disse a Morales que não interessa ao Brasil uma negociação de governo a governo sobre questões técnicas e empresariais, como o reajuste do gás. Morales prefere negociar diretamente com o Executivo.

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A parte mais dura da postura diplomática brasileira foi a insistência. Amorim afirmou que o Brasil não aceitará a saída da Petrobrás sem o pagamento de indenização. A empresa investiu cerca de US$ 1,5 bilhão na Bolívia.

Hoje, o governo argentino deve aceitar, em La Paz, uma proposta de elevação dos preços a US$ 5,50 por milhão de BTU. O Brasil paga cerca de US$ 3,3 e pretende evitar novo reajuste.

Choquehuanca voltou a dizer que a Petrobrás já obteve o retorno de seus investimentos na exploração do gás natural e que, portanto, não merece indenização. O chanceler boliviano informou que seu país não tratará de nenhum assunto relacionado a esse tema antes de obter os resultados da auditoria sobre as contas da companhia brasileira.

O presidente boliviano, Evo Morales, quer acelerar as negociações em torno dos termos da nacionalização e do preço do produto exportado ao Brasil. Ele tem os olhos voltados para a eleição da Assembléia Constituinte. Precisa de apoio popular para garantir que 2/3 dos eleitos estejam do seu lado e, assim, assegurar as mudanças que deseja fazer na legislação.

A estatal boliviana Yacimientos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) anunciou que busca US$ 2 bilhões para a construção de instalações petroquímicas e de separação de hidrocarbonetos. O país quer se tornar independente da Petrobrás. O Brasil pretende atingir a "auto-suficiência na produção de gás natural", com um acréscimo de mais 24 milhões de metros cúbicos diários na produção, em 2008, disse ontem o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli.

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A maior demonstração de cooperação da Bolívia foi em relação à reforma agrária. Amorim ouviu do presidente bolivano e de seu chanceler que os brasileiros serão tratados ¨de forma humanitária e civilizada¨. No entanto, não há garantia de que as terras não serão expropriadas.