Uma equipe internacional de astrônomos anunciou nesta quarta-feira (20) a identificação de dois planetas rochosos, com tamanho aproximado com o da Terra e temperaturas adequadas para o desenvolvimento de organismos vivos. A descoberta fortalece a tese que esses corpos celestes sejam habitáveis, dado que a atmosfera deles não é grande e difusa, como a encontrada em Júpiter, por exemplo, mas compacta, similar à da Terra, Vênus e Marte.
Os dois planetas fazem parte de um sistema localizado na chamada zona habitável de uma estrela anã, fora do nosso Sistema Solar, mas a apenas 40 anos-luz da Terra. Ele já havia sido anunciado no dia 2 de maio deste ano, mas observações realizadas dois dias depois pelo Hubble permitiram a realização de escaneamento preliminar da atmosfera de dois dos três planetas previamente identificados.
“Nós pensamos: talvez poderíamos ver se o pessoal do Hubble nos daria algum tempo de observação, então escrevemos a proposta em menos de 24 horas e recebemos a revisão imediatamente”, lembra Julien de Wit, pesquisador do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) e líder do estudo. “Agora, pela primeira vez nós temos observações espectroscópicas de um trânsito duplo, que nos permitem análises sobre a atmosfera de dois planetas ao mesmo tempo”.
O Hubble conseguiu captar o trânsito dos planetas identificados como Trappist-1b e Trappist-1c em frente à estrela que orbitam. Dessa forma, os pesquisadores puderam medir mudanças no comprimento de onda e na quantidade de luz diminuída pelas passagens. As reduções no brilho estelar foram observadas dentro de uma estreita faixa de comprimentos de onda. Se a variação fosse grande, explica de Wit, seria um sinal que os planetas teriam atmosferas inchadas, similares com a do gigante gasoso Júpiter, o que não foi o caso.
“Agora nós podemos dizer que esses planetas são rochosos. Agora, a questão é: que tipo de atmosfera eles têm?” diz de Wit. “Os cenários plausíveis incluem algo como Vênus, onde a atmosfera é dominada pelo dióxido de carbono; como na Terra, com nuvens pesadas, ou algo parecido com Marte, com uma atmosfera empobrecida. O próximo passo é tentar desemaranhar todos estes cenários possíveis”.
Mais olhos para o céu
Os cientistas agora trabalham para conseguir que mais telescópios em terra mirem para este sistema planetário. O sistema Trappist-1 tem em seu centro uma estrela anã, astro tipicamente muito mais frio que o Sol, e que emite radiação infravermelha, em vez do espectro visível. Após a descoberta, eles pretendem intensificar a análise de estrelas como essa.
A identificação do sistema planetário foi realizado pelo sistema Trappist (Transiting Planets and Planetesimals Small Telescope), que monitora as 70 estrelas anãs mais brilhantes de uma região do céu. Agora, os pesquisadores formaram um novo consórcio, batizado como Speculoos (Search for habitable Planets Eclipsing ULtra-cOOl Stars), formado por quatro telescópios do mesmo tipo que o Trappist, mas ainda mais potentes. O Hubble, claro, e o James Webb, que deve ser lançado em 2018, também fazem parte dos planos.
“Com mais observações usando o Hubble, e no futuro com o James Webb, nós podemos saber não apenas o tipo de atmosfera que os planetas do sistema Trappist-1 possuem, mas também o que está dentro dessas atmosferas”,prevê de Wit. “E isso é muito excitante”.
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