O mediador internacional Kofi Annan disse na quinta-feira ao Conselho de Segurança da ONU que a Síria não cumpriu plenamente os termos do seu plano de paz, mas mesmo assim defendeu o rápido envio de uma missão de monitoramento da trégua ao país, segundo diplomatas que acompanharam a sessão. Após mais de um ano de violência na Síria, uma frágil trégua parece estar sendo instaurada na quinta-feira, mas não há sinais de que o presidente Bashar al Assad está retirando suas forças de todas as cidades, como previa o plano de Annan, enviado especial da ONU e da Liga Árabe. A Rússia e a China, que já vetaram duas resoluções do Conselho de Segurança condenando Annan pela repressão a manifestações pró-democracia, pediram ao governo e à oposição que cumpram todos os termos e condições previstos no plano de Annan. O ex-secretário-geral da ONU disse ao Conselho que a precária trégua precisa de apoio, e defendeu o rápido envio de uma primeira leva de observadores desarmados para monitorar a implantação do seu plano de paz, à qual se seguiria um segundo grupo de observadores. "O sr. Annan confirmou que o que aconteceu hoje não constitui um cumprimento pleno por parte do governo sírio (...), já que forças e armas sírias continuam nos centros populacionais e arredores", disse a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, que preside o Conselho neste mês. "Ele enfatizou que as tropas e blindados sírios devem retornar aos seus quartéis imediatamente", disse ela a jornalistas, depois da sessão a portas fechadas em que Annan falou por videoconferência, de Genebra. O embaixador sírio na ONU, Bashar Ja'afari, queixou-se de que "oito violações ocorreram nesta manhã por parte de grupos armados (rebeldes)". O diplomata disse que a Síria está comprometida em cooperar com Annan e cumprir seu plano de paz, e acrescentou que Damasco já retirou suas tropas das cidades. Ele também fez críticas a países como Turquia, Catar e Arábia Saudita, que manifestam apoio explícito à oposição.
Rice disse que Annan informou ao Conselho sobre "relatos não confirmados" de violência, mas observou que isso é comum no começo de tréguas. Em nota antes da sessão, Annan disse que "a Síria está experimentando um raro momento de calma no terreno", e disse que o envio de observadores, a ser aprovado pelo Conselho, é crucial para a manutenção da trégua. "Isso vai nos permitir avançar rapidamente para lançar um diálogo político sério que trate das preocupações e aspirações do povo sírio", afirmou. O plano de Annan, com seis itens, prevê a desmilitarização das cidades, a instauração de uma trégua e um diálogo entre governo e oposição com vistas a uma "transição política" no país. Annan propõe o envio de 200 a 250 observadores desarmados à Síria. Rice disse que as negociações para a resolução que autorizará o envio dos observadores deverão começar "já nesta tarde" de quinta-feira. O embaixador da Rússia, Vitaly Churkin, afirmou que a aprovação pode ocorrer na sexta-feira. "A missão completa levará algum tempo para ser enviada (...). Se conseguirmos colocar 20 ou 30 monitores no começo da semana que vem, muito bom", disse Churkin. "Se conseguirmos colocar mais nos próximos dias, melhor ainda." A ONU estima que mais de 9.000 pessoas já foram mortas em 13 meses de violência política na Síria. Damasco diz que rebeldes mataram mais de 2.600 soldados e policiais nesse período.