Philonise Floyd, irmão de George Floyd, em audiência na Comissão de Justiça da Câmara dos Representantes dos EUA| Foto: Erin Schaff / POOL / AFP
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Philonise Floyd, irmão de George Floyd, homem negro que foi sufocado até a morte enquanto era detido pelo policial branco Derek Chauvin, pediu nesta quarta-feira, 10, para que o Congresso aja para evitar que o assassinato tenha sido "em vão" e que se pergunte o quanto "vale a vida de um negro".

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"Estou cansado da dor que sinto agora, da dor que sinto sempre que matam outro negro sem nenhum motivo. Estou aqui para pedir que façam isso parar. Parem a dor. Façam com que não fiquemos cansados", disse Philonise Floyd em emocionante depoimento diante da Comissão de Justiça da Câmara dos Deputados.

O irmão caçula argumentou que George Floyd "não merecia morrer por US$ 20", ao se referir ao provável uso da nota falsa que provocou a detenção.

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"Eu pergunto a vocês, é isso o que vale a vida de um homem negro? Vinte dólares? Estamos em 2020, basta. O povo que protesta nas ruas está dizendo que basta. Sejam os líderes que este país e este mundo necessitam", declarou.

"Depende de vocês garantir que a morte dele não tenha sido em vão. Honrem a memória de George fazendo as mudanças necessárias para que as forças de segurança sejam a solução, não o problema. Façam com que prestem contas quando fizerem algo ruim", afirmou.

Philonise pediu para que os policiais aprendam "o que significa tratar o povo com empatia e respeito, o que é a força necessária e que a força letal só deve ser usada em raras ocasiões e quando a vida está em perigo".

Dois dias depois que os democratas anunciaram um projeto de reforma da "cultura" dentro da polícia para encerrar os casos de brutalidade e racismo, essa comissão da Câmara - também controlada pela oposição - vai analisar a situação.

Protestos em massa

A polícia tem sido o centro das atenções desde a morte de Floyd, em 25 de maio. As imagens nas quais pode-se ouvir Floyd gritar "Não consigo respirar" levaram ao maior movimento de protesto nos Estados Unidos desde o assassinato de Martin Luther King Jr. em 1968.

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O presidente da comissão, Jerrold Nadler, disse no início da sessão que todos os dias nos Estados Unidos, a população negra e outras minorias vivem com medo.

"A história do racismo em nosso país e a violência motivada pelo racismo estão no pecado original da escravidão que continua assombrando nossa nação", disse o legislador democrata, que pediu para lembrar que Floyd é mais do que uma causa e um nome gritado nas manifestações.

O legislador republicano de mais alto escalão da comissão, Jim Jordan, admitiu que é hora de uma discussão real sobre o tratamento policial dado aos afro-americanos. "Os assassinos do seu irmão vão enfrentar a justiça", disse Jordan a Philonise Floyd.

Das 1.098 pessoas mortas nos Estados Unidos pela Polícia em 2019 um quarto era de negros, de acordo com o portal de mapeamento de violência política. Os afro-americanos no país representam menos de 13% da população.

Um registro de violência

Diante do debate nacional, a polícia de Houston proibirá a imobilização com asfixia e a corporação de Minneapolis será desmontada para ser reformada e refundada.

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No nível federal, a Lei de Polícia e Justiça - que conta com o apoio de mais de 200 legisladores democratas - busca criar um registro de agentes que cometem abusos, facilitar seu processo e repensar os processos de seleção e treinamento.

O futuro desse processo, entretanto, é incerto caso os democratas não consigam o apoio dos republicanos, que dominam o Senado, e do presidente Donald Trump, que condenou a morte de Floyd, mas deu seu apoio expresso à Polícia.

Reformas antirracistas nos EUA

O chefe da maioria republicana no Senado, Mitch McConnell, anunciou na terça-feira que instruiria o senador negro Tim Scott a avaliar o projeto.

Nos Estados Unidos - onde existem cerca de 18 mil entidades policiais autônomas, incluindo órgãos municipais eleitos e xerifes de condado -, a articulação de uma reforma dessa proporção é complexa.

O agente acusado Derek Chauvin, de 44 anos, foi preso pelo assassinato e está encarcerado em uma prisão de alta segurança. Três de seus ex-colegas envolvidos na prisão também foram acusados de cumplicidade.

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