As eleições de meio de mandato presidencial nos Estados Unidos, as chamadas midterms, são historicamente um referendo sobre o desempenho do morador do momento da Casa Branca.
O governo do democrata Joe Biden, entretanto, tenta vender a ideia de que essa regra não vale para o pleito desta terça-feira (8), cuja votação terminou apenas às 3 horas (horário de Brasília) de quarta (9), com o fechamento das urnas no Alasca.
“Antes mesmo de todos os votos serem depositados nas urnas, especialistas estão declarando que essas eleições foram um referendo sobre a agenda do presidente – nada poderia estar mais longe da verdade”, apontou um memorando interno desta terça da Casa Branca, ao qual a imprensa americana teve acesso.
Considerando o histórico de reveses de presidentes nas midterms, não é à toa que Biden tenta se descolar de uma provável derrota.
Historicamente, o partido do presidente em exercício costuma ir mal nas eleições de meio de mandato: segundo levantamento do jornal The Hill, desde 1946, a legenda do governante do momento perdeu assentos na Câmara na grande maioria desses pleitos (com apenas duas exceções) e no Senado conseguiu mais cadeiras em somente quatro oportunidades.
Estavam em disputa nesta terça-feira 35 dos cem assentos no Senado e todos os 435 da Câmara dos Representantes. Até esta eleição, o Senado estava dividido por democratas e republicanos, com a vice-presidente Kamala Harris dando o voto de minerva em casos de empate. Na Câmara dos Representantes, os democratas ocupavam 220 cadeiras e os republicanos, 212.
Projeções feitas pela imprensa americana antes do início da votação apontavam que, das 35 cadeiras no Senado em disputa, os republicanos eram os favoritos para conquistar 20, enquanto os democratas estavam propensos a ganhar 12 assentos. Para três cadeiras, a projeção era incerta. Dos 35 assentos em disputa no Senado, 14 eram ocupados por democratas e 21 por republicanos.
Na Câmara, os republicanos eram favoritos para conquistar 216 assentos, e os democratas, 199. As 20 cadeiras restantes tinham projeção incerta.
Até o início da tarde desta quarta-feira (9), segundo a imprensa americana, os números parciais da apuração mostravam 32 disputas para o Senado definidas, com os republicanos ganhando 20 cadeiras (uma delas, a reeleição de Marco Rubio na Flórida), mas sem conseguir “roubar” por ora nenhum assento dos democratas – que por enquanto mantiveram 12. O partido de Biden tomou uma cadeira republicana, na Pensilvânia.
Na Câmara, os republicanos já haviam obtido 203 cadeiras, incluindo 11 tomadas dos democratas, enquanto o partido de Biden somava 187 assentos – quatro eram da oposição.
Tradição amarga
Três dos quatro antecessores de Biden nos últimos 30 anos colheram derrotas nas midterms dos seus primeiros mandatos. A exceção foi George W. Bush, que viu em 2002 os republicanos somarem oito assentos a mais na Câmara.
Antes dele, os democratas de Bill Clinton amargaram a perda de 54 cadeiras em 1994, enquanto Barack Obama (63 assentos a menos para os democratas em 2010) e Donald Trump (os republicanos perderam 41 cadeiras em 2018) também sofreram derrotas.
Porém, apesar do estado de negação da Casa Branca, Miguel Jiménez, correspondente em Washington do jornal El País, disse que Biden não pode escapar do espírito de referendo sobre seu mandato dessas midterms.
“A inflação – a mais alta das últimas quatro décadas – corroeu o poder de compra dos americanos. Isso contribuiu para os baixos níveis de popularidade do presidente e do Partido Democrata em geral, que atualmente controla a Casa Branca, o Senado [considerando o voto de desempate de Kamala Harris] e a Câmara dos Representantes. Com os preços da gasolina e dos alimentos em alta, os consumidores estão sentindo o aperto”, destacou, em artigo publicado nesta terça-feira.
A inflação interanual americana ficou em 8,2% em setembro. Um terço dos entrevistados numa pesquisa boca de urna divulgada na noite desta terça-feira pela CNN destacou a inflação como a questão mais importante para seu voto, o assunto mais mencionado pelos eleitores ouvidos.
Para piorar, metade dos eleitores disse confiar nos candidatos do Partido Republicano para lidar com a inflação e a criminalidade, enquanto apenas quatro em cada dez eleitores disseram confiar nos candidatos democratas nessas questões.
A pesquisa divulgada pela CNN apontou que 54% dos eleitores desaprovam o trabalho de Biden como presidente; 46% dos eleitores consideraram que suas políticas estão prejudicando o país.
Nesta quarta-feira, grande parte dos resultados consolidados das midterms deve ser conhecida, ainda que os números finais ainda devam demorar dias para sair. Mas o que se sabe com certeza é que as eleições de meio de mandato estão sendo, ao contrário do que quer a Casa Branca, um referendo sobre o governo Biden – e o resultado não deve agradá-lo.
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