Dezenas de pessoas foram presas nesta quarta-feira (23) na Argentina por participarem de saques a lojas e supermercados em diversos ataques que o governo classificou como “incentivados para desestabilizar o peronismo”. Entre os acusados de "promover o caos" está o candidato mais votado nas recentes eleições primárias, o libertário Javier Milei.
Depois de tentativas de saque a supermercados e outros comércios entre o fim de semana e segunda-feira, principalmente nas províncias de Mendoza e Córdoba, ontem ocorreram episódios semelhantes em vários municípios da província de Buenos Aires, com mobilização de policias nas ruas.
O ministro da Segurança da província, Sergio Berni, confirmou à emissora de TV "C5N" a detenção de pelo menos 40 pessoas por “tentativa de roubo organizado” e denunciou um “bombardeio” de mensagens por parte do serviço de mensagens instantâneas WhatsApp “incitando” estes ataques.
Já o ministro da Segurança Nacional, Aníbal Fernández, insistiu nesta quarta-feira na hipótese de que os ataques “não são espontâneos”, embora tenha destacado que o governo não dispõe de “dados fiáveis” sobre a autoria intelectual e anunciou a criação de um comando unificado para investigar esses fatos.
Dessa forma, ele distanciou-se das acusações feitas em redes sociais pela porta-voz da Presidência, Gabriela Cerruti, que apontou, sem provas, o líder da frente A Liberdade Avança, Javier Milei, como o instigador.
Em um vídeo transmitido na rede social TikTok, Cerruti descreveu a série de ataques e roubos a empresas como uma "operação armada por pessoas de Javier Milei", que "visa gerar desestabilização, gerar incerteza e ir contra a democracia".
"Se houver bandidos, serão presos. E se houver desestabilizadores e golpistas, terão a resposta de toda a sociedade que os repudia", acrescentou ela em sua conta na rede social X (ex-Twitter).
Por sua vez, a ex-ministra de Segurança Patricia Bullrich, candidata da frente de oposição Juntos pela Mudança, do ex-presidente Mauricio Macri, publicou uma mensagem na mesma rede social na qual destacou a "ausência" das autoridades nacionais, como os atuais presidente, Alberto Fernández, e vice-presidente, Cristina Kirchner, “diante de uma situação trágica ou de desordem”.
“É preciso ordem. As pessoas estão sozinhas, e ninguém as protege”, escreveu.
Em um comunicado divulgado nessa semana, a Câmara Argentina de Comércio e Serviços (CAC) condenou as "tentativas de saque", que ela chamou de "atos criminosos".
Ainda segundo a entidade, a Argentina “não pode ser refém de pequenos grupos de desajustados que, escondendo-se atrás do genuíno descontentamento de amplas camadas da população, pretendem infringir a lei e provocar o caos”.
O chefe do Gabinete de Ministros e candidato a vice-presidente na chapa liderada por Sergio Massa, Agustín Rossi, confirmou que o governo tinha informações sobre possíveis episódios organizados por cidadãos com "antecedentes".
Embora para o governo peronista os eventos não sejam uma reação social nem tenham inicialmente uma conotação política, ocorrem em um contexto de crescente pobreza devido à aceleração da inflação e de tensão política após as primárias do último dia 13, que representam um cenário incerto para as eleições presidenciais do mês de outubro. (Com informações da Agência EFE)