![Funcionários do serviço secreto norte-americano montam guarda enquanto o Air Force One, o avião do presidente Barack Obama, taxia no aeroporto Stansted, perto de Londres, na última quinta-feira | Toby Melville/Reuters](https://media.gazetadopovo.com.br/2011/05/29-obama_2-1.0.78801790-full.jpg)
A crítica mais incisiva contra a política externa do presidente Barack Obama compara o que foi dito durante a campanha do "Sim, Nós Podemos" com o que ele está fazendo de 2009 para cá.
Para enterrar a ideia de que o governo é todo retórica e nenhuma ação, o líder norte-americano parece se esmerar um bocado desde a noite em que surgiu na televisão, ao vivo em rede planetária, para contar que Osama bin Laden (1957-2011) já era.
Foi na noite do dia 1.º de maio, madrugada do dia 2 no Brasil, e Obama entregou a cabeça do arqui-inimigo dos EUA. Nas semanas seguintes, o que se viu e ouviu foi... Mais retórica. O presidente fez um discurso sobre o mundo árabe, falou sobre o conflito entre palestinos e israelenses pareceu ensaiar uma aproximação com os primeiros, mas depois voltou atrás , e engatou uma viagem pela Europa, da Irlanda à Polônia, com o G8 no meio, que termina neste sábado, em Varsóvia.
Analistas consultados pela Gazeta do Povo têm poucos pontos favoráveis a destacar sobre a política externa do governo Obama até o momento. Oscila-se entre a desilusão romântica e a fria indiferença.
Luciana Worms, professora de Geopolítica no Dom Bosco, define o trabalho de Obama nas questões estrangeiras como "absolutamente previsível" e ela não esconde a frustração ao falar assim.
Quando atendeu a reportagem, na noite de sexta-feira, ela assistia ao filme Gandhi, em que o ator Ben Kingsley interpreta o líder indiano pregador da não violência, um dos símbolos do desejo romântico de um mundo melhor, morto a tiros em 1948.
"Talvez Obama não queira desempenhar esse tipo de papel [de símbolo de um mundo melhor]", diz Luciana. "Obama está praticando a política do bate e assopra. Depois da morte de Bin Laden, ele tentou mostrar que é favorável ao mundo árabe, mas acabou gerando uma situação constrangedora", argumenta.
A professora de Geopolítica se refere ao episódio em que Obama fez um discurso defendendo a criação de um estado palestino para, dias depois, reafirmar o vínculo com Israel e acalmar o premiê Benjamin Netanyahu. A maior decepção que ela experimentou em relação ao presidente americano foi ver a falta de disposição dele em incentivar um processo de paz no Oriente Médio.
Vários analistas consideraram vazias as palavras de Obama sobre o embate entre Israel e Palestina. Elas foram ditas por outros líderes antes dele e não tiveram qualquer efeito prático.
2012
De acordo com Luciana, Obama se preocupa com a disputa eleitoral de 2012 e tem o desafio de fazer um sucessor democrata para 2016, algo que o republicano Ronald Reagan conseguiu nos anos 1980, "apesar de uma política externa asquerosa". Então, respondendo a pergunta no título desta matéria, o rumo de Obama é a campanha política. Ela impulsiona o presidente, inclusive na política externa.
Para Marcos Alan Ferreira, professor de Relações Internacionais na Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), de São Paulo, Obama não fez muito mais que dar continuação à gestão do antecessor, George W. Bush, o homem que conseguiu criar uma "doutrina" com o seu nome, combatendo o "eixo do mal" e fazendo barbaridades dentro e fora dos EUA.
"Os maiores desafios de Obama são internos e não externos", explica Ferreira, referindo-se a questões financeiras, de saúde e, nas últimas semanas, climáticas. Segundo o professor, procedem as críticas de que o presidente americano ainda se destaca pela retórica sem ação. Na questão de Israel, por exemplo, ele falou e falou sobre um estado palestino para, no Congresso, ver o Partido Democrata colocar-se ao lado dos israelenses não importa qual seja o argumento de paz.
"Proativo"
Apesar das dificuldades, Ferreira diz ver em Obama um presidente mais "proativo" em relação às nações estrangeiras, viajando mais e estabelecendo contatos.
Em um texto publicado no início do mês pela revista The New Yorker (leia mais no rodapé da página), o correspondente em Washington Ryan Lizza tratou da política externa de Obama, destacando a ideia que perpassa todas as decisões do mandatário, a de que "a América precisa agir com humildade".
Porém, tal postura não o impede de defender os interesses do país que representa e também os seus próprios. O individualismo é, afinal, uma característica preponderante dos EUA.