“Em 1989, tivemos sucesso na busca pelo gene da fibrose cística, após anos de trabalho e um investimento de US$ 50 milhões. Hoje, esse projeto poderia ser feito por um único pós-graduando com acesso à internet.” Francis Collins, diretor dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA| Foto: Stephen Jaffe/AFP

Os estudos sobre o genoma hu­­mano viraram, de certa maneira, vítimas de seu próprio sucesso. Perto do aniversário de 10 anos do anúncio da primeira leitura completa do DNA humano, cientistas afirmam que a capacidade de soletrar o material genético al­­cançou velocidades inéditas, embora ainda seja difícil usar esses dados para prevenir e tratar doenças.

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Por isso mesmo, novos artigos dos cientistas americanos Francis Collins e Craig Venter na revista "Nature’’ soam como um novo adiamento das promessas médicas da leitura do genoma.

Collins, hoje diretor dos Insti­­tutos Nacionais de Saúde dos EUA, chefiou o Projeto Genoma Humano pago com dinheiro pú­­blico. Já Venter, agora no Ins­­ti­­tuto J. Craig Venter, na Califórnia, liderou o projeto privado que "empatou’’ com o de Collins ao produzir uma leitura alternativa do genoma.

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Uma década após esse momento de glória, está cada vez mais fácil ler o genoma humano. Hoje, um genoma humano inteiro sai por US$ 5 mil, algo que facilita a identificação de genes ligados a doenças. "Entre 1999 e 2009, fi­­cou 14 mil vezes mais barato’’, diz Collins.

"Em 1989, tivemos sucesso na busca pelo gene da fibrose cística, após anos de trabalho e um investimento de US$ 50 milhões. Hoje, esse projeto poderia ser feito em poucos dias por um único pós-graduando com acesso à internet, amostras de DNA, al­­guns reagentes baratos e um se­­quenciador.’’

Complexidade

O problema é que doenças como a fibrose cística, causadas por mu­­tações num único gene, são raras e pouco importantes para a saúde pública. Muito mais difícil é esmiúçar a contribuição genética para doenças comuns, como diabetes, câncer e problemas cardiovasculares.

Nesse ponto, a imensa quantidade de dados oriunda do genoma ainda não está ajudando muito. "A tecnologia de sequenciamento do DNA avançou muito mais rápido do que a nossa capacidade de interpretar os dados’’, diz Lygia da Veiga Pereira, bióloga da USP.

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"Agora é preciso que um exército de cientistas mundo afora estude cada pedaço dos dados que já temos do genoma, num trabalho menos glamuroso, mas muito importante.’’

Para Eloiza Tajara, da Facul­­da­­de de Medicina de São José do Rio Preto (SP), outro esforço para que o genoma chegasse à clínica médica seria criar bancos de da­­dos dos pacientes com itens como uso de cigarro e álcool, alimentação e estresse, para saber como genes e ambiente interagem nas doença.