Os estudos sobre o genoma humano viraram, de certa maneira, vítimas de seu próprio sucesso. Perto do aniversário de 10 anos do anúncio da primeira leitura completa do DNA humano, cientistas afirmam que a capacidade de soletrar o material genético alcançou velocidades inéditas, embora ainda seja difícil usar esses dados para prevenir e tratar doenças.
Por isso mesmo, novos artigos dos cientistas americanos Francis Collins e Craig Venter na revista "Nature soam como um novo adiamento das promessas médicas da leitura do genoma.
Collins, hoje diretor dos Institutos Nacionais de Saúde dos EUA, chefiou o Projeto Genoma Humano pago com dinheiro público. Já Venter, agora no Instituto J. Craig Venter, na Califórnia, liderou o projeto privado que "empatou com o de Collins ao produzir uma leitura alternativa do genoma.
Uma década após esse momento de glória, está cada vez mais fácil ler o genoma humano. Hoje, um genoma humano inteiro sai por US$ 5 mil, algo que facilita a identificação de genes ligados a doenças. "Entre 1999 e 2009, ficou 14 mil vezes mais barato, diz Collins.
"Em 1989, tivemos sucesso na busca pelo gene da fibrose cística, após anos de trabalho e um investimento de US$ 50 milhões. Hoje, esse projeto poderia ser feito em poucos dias por um único pós-graduando com acesso à internet, amostras de DNA, alguns reagentes baratos e um sequenciador.
Complexidade
O problema é que doenças como a fibrose cística, causadas por mutações num único gene, são raras e pouco importantes para a saúde pública. Muito mais difícil é esmiúçar a contribuição genética para doenças comuns, como diabetes, câncer e problemas cardiovasculares.
Nesse ponto, a imensa quantidade de dados oriunda do genoma ainda não está ajudando muito. "A tecnologia de sequenciamento do DNA avançou muito mais rápido do que a nossa capacidade de interpretar os dados, diz Lygia da Veiga Pereira, bióloga da USP.
"Agora é preciso que um exército de cientistas mundo afora estude cada pedaço dos dados que já temos do genoma, num trabalho menos glamuroso, mas muito importante.
Para Eloiza Tajara, da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (SP), outro esforço para que o genoma chegasse à clínica médica seria criar bancos de dados dos pacientes com itens como uso de cigarro e álcool, alimentação e estresse, para saber como genes e ambiente interagem nas doença.
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