O ex-sargento aposentado nazista Reinhold Hanning, 94, começou a ser julgado nesta quinta-feira (11) em Detmold (oeste da Alemanha) sob acusação de ter sido cúmplice em 170 mil mortes quando era guarda no campo de concentração de Auschwitz, no sul da Polônia, onde milhares de judeus morreram nas câmaras de gás.
A realização do julgamento de Hanning foi possível após novo precedente ter sido estabelecido em 2011, quando John Demjanjuk, ucraniano naturalizado americano que trabalhou na indústria automobilística, foi condenado por colaborar com o regime nazista durante a 2ª Guerra Mundial (1939-1945), sem que houvesse provas de envolvimento em uma morte específica.
Além de Hanning, espera-se que outros dois homens e uma mulher ex-membros da SS (força paramilitar do nazismo), que também teriam servido em Auschwitz, sejam levados a julgamento neste ano.
Hanning, que trabalhou no setor de laticínios depois da guerra até se aposentar, em 1984, rejeitou fazer um pronunciamento de abertura na corte.
Ele não mostrou nenhuma reação quando a primeira testemunha, Leon Schwarzbaum, um sobrevivente de 94 anos de Auschwitz, leu uma comovente declaração sobre suas próprias experiências e então olhou diretamente para Hanning em um apelo emocionante.
“Sr. Hanning, temos a mesma idade e, em breve, estaremos os dois perante a mais alta corte”, disse Schwarzbaum, com a voz embargada e as mãos trêmulas. “Fale aqui sobre o que o senhor e seus companheiros fizeram!”
Na primeira vez em que foi questionado, Hanning admitiu aos investigadores que serviu na seção Auschwitz 1 do campo de concentração da Polônia ocupada, mas negou ter servido na seção Auschwitz 2-Birkenau, onde a maioria das 1,1 milhão de vítimas foram mortas.
Na abertura do julgamento, porém, seus advogados apresentaram uma moção pedindo que essa declaração fosse excluída, afirmando que Hanning havia sido “surpreendido” quando as autoridades apareceram em sua casa e não estava completamente ciente de estar sob investigação. Ainda não está claro se os juízes acatarão o pedido.
Antes de prestar seu testemunho na corte, Schwarzbaum, que foi levado a Auschwitz em 1943, disse à agência de notícias “Associated Press” que, apesar de muitos nazistas terem escapado da Justiça, o julgamento de Hanning é a coisa certa a fazer. “Aqueles que auxiliaram o aparato nazista, mesmo com participação mínima, devem ser condenados”, afirmou.
No caso de Demjanjuk, os promotores tiveram êxito argumentando que o ato de apenas servir em um campo, assim ajudando em sua operação, seria suficiente para condenar alguém como cúmplice dos assassinatos cometidos no local.
Apesar de Demjanjuk ter sempre negado que tivesse servido no campo de concentração e ter morrido antes de sua apelação, os promotores conseguiram condenar no ano passado o sargento da SS Oskar Groening, que serviu em Auschwitz, sob a acusação de cumplicidade na morte de 300 mil pessoas.
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