A economia mundial é movida pela queima de carbono há quase três séculos, e superar essa dependência não é tarefa simples. Embora existam tecnologias, dinheiro e disposição para reduzir as emissões de gás carbônico, é raro encontrar esses três fatores ao mesmo tempo, no mesmo lugar e em grande escala e quando isso ocorre, o processo também não costuma ser rápido. A fabricante de carpetes norte-americana Interface, por exemplo, está mobilizada desde 1994 em torno de um dos mais ambiciosos programas do gênero, e só espera atingir em 2020 a meta de reduzir a zero sua "pegada ambiental".Se a transição para a economia de baixo carbono ocorre a passos lentos, é bom que comece logo. "Se formos esperar por um acordo climático bem costurado e que agrade a todos, talvez não saia nem em 20 anos", diz Ricardo Voltolini, diretor da consultoria Ideia Sustentável. "Acredito mais na multiplicação das boas atitudes que alguns países e empresas já põem em prática."Sementes
Aos poucos, iniciativas assim vêm se multiplicando. As mais comuns são as que buscam "compensar" os gases de efeito estufa (GEEs) lançados à atmosfera, em especial por meio do plantio de árvores, que "capturam" CO2. É o que faz a paranaense Nutrimental, de São José dos Pinhais (região metropolitana de Curitiba). "Todos os gases emitidos na fabricação de barras de cereais, barras de frutas, cereais matinais e cookies integrais da linha Nutry são calculados, anualmente. Em seguida, árvores são plantadas conforme o volume apurado", explica Ludmila Holz, gerente da marca Nutry. Em 2007, primeiro ano do programa, a empresa plantou quase 8 mil árvores em uma área de Francisco Beltrão (Sudoeste do Paraná).
"O plantio de árvores não é o melhor instrumento, mas é interessante", avalia Voltolini. "É um caminho intermediário, pelo qual eu amenizo o problema enquanto não consigo efetivamente diminuir as minhas emissões, que é um processo bem mais longo."
A fabricante de cosméticos Natura que já planta árvores e financia projetos de desmatamento evitado e de energia limpa vem trabalhando nessa direção, com a meta de reduzir em 33%, em cinco anos, seus GEEs. Por enquanto, a três anos do prazo, conseguiu baixá-los em apenas 9%.
Além de trabalhoso, o processo geralmente é caro. No Brasil, 33% das empresas afirmam que a principal barreira à disseminação das tecnologias sustentáveis são os "custos incompatíveis", e outras 18% apontam a falta de financiamento, conforme pesquisa da consultoria Roland Berger. A oferta desse tipo de tecnologia no país também é considerada insuficiente por 85% dos empresários.
Com sobras
Enquanto isso, já há companhias exibindo uma espécie de "pegada negativa" de carbono. É o caso da Novozymes, multinacional dinamarquesa especializada em biotecnologia, cuja filial latino-americana fica em Araucária (região metropolitana de Curitiba). A empresa afirma que, em 2008, suas atividades em todo o mundo provocaram emissões de 1,5 milhão de toneladas de gás carbônico; por outro lado, o uso em diversas indústrias das enzimas que ela produz evitou emissões de aproximadamente 28 milhões de toneladas de CO2 é como se uns 6 milhões de carros a gasolina tivessem deixado de circular.
Substâncias microscópicas presentes em todos os seres vivos, as enzimas atuam como "catalisadores", ou seja, aceleram reações químicas. O que a Novozymes faz é descobrir, e produzir em grande escala, enzimas úteis para processos industriais. "Ao acelerar reações químicas, elas diminuem o consumo de produtos químicos fortes, de água e de energia", explica o presidente da Novozymes Latin America, Pedro Luiz Fernandes. "Para produzir um quilo de enzimas, nós emitimos de um a dez quilos de CO2. Mas esse mesmo quilo de enzimas vai evitar a emissão de 30 quilos de carbono em uma fábrica de ração animal. Ou de 600 quilos em uma fábrica de papel."