Bandeiras dos EUA e do Texas tremulam em frente a torres de transmissão de alta tensão, em Houston, Texas.| Foto: JUSTIN SULLIVAN / GETTY IMAGES NORTH AMERICA / AFP
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Uma forte onda de frio no sul dos Estados Unidos deixou milhões de pessoas sem energia elétrica no Texas na semana passada. Correntes de ventos vindas do Ártico resultaram nas temperaturas mais baixas registradas no estado nos últimos 30 anos. Rapidamente, o consumo de energia aumentou a níveis recordes, mas, devido às condições climáticas adversas, a produção de energia não conseguiu suprir esta alta demanda. Em vez de aumentar a geração, usinas, despreparadas para o frio intenso incomum no estado, tiveram que ser desligadas do sistema elétrico. O apagão durou cerca de três dias, mas mais de 15 mil consumidores ainda estavam sem luz no Texas nesta segunda-feira (22), segundo o monitor PowerOutage.us.

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Muito tem se discutido na imprensa americana sobre os prováveis culpados pelo blackout. Alguns dizem que ele ocorreu por causa das falhas nos aerogeradores, que não funcionam em temperaturas negativas extremas. Outros afirmam que se o sistema elétrico do Texas não fosse isolado do resto do país, o apagão não teria ocorrido. O fato é que diversos fatores levaram a uma sequência de falhas, para muitas das quais ainda não há resposta, porque dados e informações técnicas sobre o que aconteceu ainda estão sendo averiguados. Mas alguns pontos gerais podem ajudar a esclarecer a crise.

Frio incomum

Os primeiros sinais de falha no sistema elétrico vieram com a redução da geração de energias renováveis. A produção de energia solar e eólica caiu a 2% da capacidade instalada durante o blackout. Em condições normais, a energia produzida destas fontes pode entregar até 60% do que é consumido no Texas, mas não em temperaturas congelantes. Não se pode dizer, entretanto, que as falhas em aerogeradores causaram o apagão. Os gerentes do sistema elétrico sabem que eles não funcionam sob certas condições climáticas. Quando as fontes renováveis – mais baratas – não podem entregar energia, as usinas térmicas – gás, carvão ou nuclear, mais caras – aumentam sua produção para atender à demanda. O problema é que mesmo as termelétricas tiveram problemas com as temperaturas baixas na semana passada. Unidades tiveram que ser desligadas e a geração de energia por fontes convencionais ficou 40% abaixo do necessário.

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Em alguns casos, sensores foram danificados por causa das baixas temperaturas; canos de água congelaram, causando falhas nas termelétricas; gasodutos também congelaram, reduzindo a quantidade de combustível necessário para o funcionamento das usinas. Analistas da área afirmaram que, mesmo que a rede elétrica do Texas fosse interligada a sistemas adjacentes, o desabastecimento teria ocorrido de qualquer maneira, porque eles não tinham capacidade excedente de geração de energia.

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O mercado de energia no Texas

Por que, então, as usinas não estavam preparadas para esse frio incomum? Uma das razões pode ser o modelo que rege o mercado de energia no estado desde os anos 90: pouco regulamentado e que privilegia o menor preço. Como resultado, o preço da energia para o consumidor é baixo quando a demanda está estável. Contudo, quando há crises como a de agora (alto consumo e pouca energia sendo produzida), o preço dispara, seguindo a lei da oferta e demanda, a fim de incentivar o acionamento de usinas de energia de todos os tipos.

Isso explica por que vários texanos, que não tiveram sua energia cortada durante o apagão, estão recebendo contas de energia caríssimas. Um morador de Dallas, por exemplo, contou ao New York Times que sua conta de luz chegou a US$ 16 mil. Pessoas que pagavam a energia por meio de débito automático viram suas contas bancárias zerarem ou entrarem no negativo por causa do aumento do preço da energia elétrica.

Quando a geração de energia começou a falhar em algumas partes do estado, a Ercot (Electric Reliability Council of Texas), operadora do sistema estadual, não conseguiu mais manter o equilíbrio entre oferta e demanda, nem mesmo com cortes programados de energia. Mas o modelo do mercado de energia do Texas não prevê uma penalização às empresas caso elas deixem de fornecer energia devido a falhas. Elas são pagas pelo que entregam, mas não fornecem garantia de capacidade de geração. Ou seja, não há incentivos para que o sistema como um todo seja aprimorado para enfrentar baixas temperaturas que aparecem raramente no estado.

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Um problema semelhante ocorreu no Texas em 2011, depois que nevascas prejudicaram o funcionamento de quase 200 termelétricas. Milhões ficaram sem luz por oito horas, mas isso não impediu a crise atual. A Ercot criou um conjunto de melhores práticas para que as usinas de energia estivessem preparadas para frios intensos. Contudo, como o órgão não tem autoridade regulatória, as medidas servem apenas como recomendações.

O problema é que essas adaptações custam muito investimento. E é provável que isso seja deixado de lado assim que a energia voltar às residências, considerando que o modelo dá preferência ao baixo custo da energia e as fontes renováveis, como a eólica e a solar – bastante presentes no sistema elétrico do Texas – puxam os preços para baixo. Regulamentações poderiam incentivar investimentos no setor para que situações como esta não se repitam, preparando o sistema elétrico para condições climáticas extremas. Contudo, isso potencialmente elevaria os custos de produção de energia no estado.

Prós e contras de uma eventual mudança devem ganhar atenção dos legisladores do estado, ao passo que cientistas afirmam que eventos climáticos extremos, como o que atingiu o Texas na semana passada, tendem a ocorrer com cada vez mais frequência no futuro.

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