Buenos Aires - Num barzinho do bairro de Palermo, três pessoas assistem na tevê a um spot da campanha do peronista Alberto Rodríguez Saá, governador da província de San Luis e candidato à Presidência do país. El Alberto, como é chamado o candidato que ficou em quinto lugar nas primárias de 14 de agosto passado, promete "wi-fi de graça para todos os argentinos", mas nem assim consegue entusiasmar um eleitorado que vive uma das campanhas mais apáticas das últimas décadas na Argentina. "Rodríguez Saá tem propostas atraentes, parece que fez um bom governo em San Luis, mas aqui todo mundo já sabe que Cristina (Kirchner) será reeleita", comenta a professora Inés Scher, 32 anos.
Nesta semana, as propagandas eleitorais voltaram aos canais de tevê, mas a esmagadora vitória da presidente nas primárias, com mais de 50% dos votos, transformou a campanha quase num trâmite burocrático. Os candidatos da oposição enfrentam, ainda, limitações econômicas, já que com os votos conquistados nas primárias (ninguém passou de 13%), os recursos para a campanha previstos na lei eleitoral foram menores do que o esperado.
Enquanto a oposição tenta melhorar o desastroso resultado das primárias, Cristina dedica seu tempo a inaugurar obras de infraestrutura e projetos bem-sucedidos de seu governo. Ontem, a presidente comemorou a entrega de 10 milhões de novos documentos nacionais de identidade, emitidos com um sistema eletrônico que começou a funcionar no ano passado.
"Quando chegamos (ao poder, em 2003), a Argentina era um imenso país fechado e nós começamos a abri-lo", declarou a presidente, que, segundo recentes pesquisas, será reeleita no primeiro turno com cerca de 55% dos votos.
Analistas políticos locais explicam que o resultado das primárias praticamente anulou a campanha eleitoral para as presidenciais do próximo dia 23 de outubro. Na visão de Carlos Fara, "já existe um final anunciado, e as pessoas não acreditam que esse resultado possa mudar até as eleições".
Para Graciela Romer, da Romer e Associados, "esta é quase uma não campanha, na qual não se discutem propostas e a oposição não sabe como diferenciar-se do governo, que busca sua reeleição com base na ratificação do que já foi feito, e não de novos projetos".