A ausência de uma estrutura estatal minimamente consolidada fez com que o Haiti não seguisse as determinações de segurança e prevenção comuns às zonas de risco de terremotos, como fazem os países desenvolvidos.

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O país está localizado sobre uma região de divisão de placas tectônicas, em uma zona que gera uma torção entre a placa norte-americana e a placa do Caribe, tornando provável a ocorrência de tremores. "Ocorre que, historicamente, a liberação desta energia sempre ocorreu na parte norte, com reflexos na placa norte-americana. Desta vez, porém, a liberação ocorreu na parte sul", explicou à Gazeta do Povo o doutor em sismologia e chefe do observatório sismológico da Universidade de Brasília (UnB), George Sand França.

A estrutura geológica pode indicar o potencial de sismos, mas o especialista garante que não existe tecnologia capaz de antever a ocorrência de terremotos de grande magnitude. "Os países desenvolvidos que convivem com os terremotos podem se preparar, com treinamento da população e com engenharia e estrutura que permitam minimizar os danos", aponta.

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No Haiti, a intensidade do tremor aliada à fragilidade das construções locais e à alta densidade populacional foram fatores determinantes para o elevado número de vítimas.

O especialista acredita na possibilidade de que novos tremores ocorram no país até a acomodação das placas. "No entanto, é impossível prever por quanto tempo deve durar a instabilidade na área. É relativo, os tremores podem cessar em até uma semana ou durar alguns meses, às vezes até um ano, como há registros."

Tremores no Brasil

George França descarta a correlação entre os leves tremores registrados no início desta semana na região Nordeste do Brasil com o evento do Haiti, e aproveita para desfazer o mito de que o Brasil é "terra imune" à ocorrência de terremotos.

Em entrevista à agência de notícias BBC Brasil, França afirmou que a hipótese de um terremoto de consequências graves no país é muito rara, mas não pode ser descartada. Segundo ele, terremotos de grande intensidade são mais comuns nas "bordas" das placas tectônicas, mas também podem ocorrer em seu interior.

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Baseando-se nas comparações com catástrofes ocorridas em locais com características geológicas semelhantes às do Brasil, o especialista afirma que um evento desta magnitude poderia ter efeitos trágicos por aqui, devido ao aumento da densidade populacional e à falta de estruturas resistentes a abalos no país.

O maior terremoto já registrado no Brasil teve intensidade 6,2 graus na escala Richter e ocorreu na Serra do Tombador, próximo à cidade de Porto dos Gaúchos (MT) no ano de 1955. Naquele mesmo ano, outro terremoto na mesma intensidade foi registrado no oceano, a 300 quilômetros da costa de Vitória (ES). Os eventos, no entanto, não estavam relacionados.