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Oriente Médio

Apesar de relação conturbada, analistas consideram improvável conflito direto entre Israel e Líbano

Incêndio irrompe de um míssil disparado do sul do Líbano, próximo à cidade de Kiryat Shmona (Foto: EFE/EPA/ATEF SAFADI)

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Israel e o Hezbollah - facção que atua a partir do Líbano - enfrentam um momento de máxima tensão na fronteira norte desde 8 de outubro, um dia após o massacre do Hamas que deixou milhares de mortos no território israelense.

Essa troca de ataques ganhou ainda mais força nos últimos dias, com mobilização dos dois lados, que levou analistas a especularem sobre a possibilidade de um conflito direto entre Israel e o Líbano, países que tecnicamente já estão em guerra.

Gunther Rudzit, professor de relações internacionais da ESPM e especialista em segurança internacional, explicou que o Líbano foi o primeiro país árabe a assinar um armistício com Israel, em 1948, ano de sua criação.

"Em 1983, os países chegaram a assinar o Acordo de 17 de maio, que colocava um fim ao estado de beligerância entre os lados. Mas esse tratado foi revogado pelo Parlamento libanês em fevereiro do ano seguinte, fazendo com que, tecnicamente, os dois Estados estejam em guerra".

Ricardo Caichiolo, professor de Relações Internacionais do Ibmec Brasília, pontua que a relação "complexa e sensível" entre os lados ao longo das últimas décadas é fruto de uma série de batalhas diretas.

"Devemos lembrar que em 1982 ocorreu a chamada Primeira Guerra do Líbano, quando os israelenses invadiram o sul do país com o intuito de interromper ataques ao seu território oriundo de palestinos da Organização para a Libertação da Palestina (OLP) que estavam instalados na região. Em 2006, ocorreu um novo conflito, envolvendo militares israelenses e membros armados do Hezbollah, com ataques ocorrendo tanto ao sul do Líbano como no norte de Israel. Vê-se, portanto, que há um histórico de tensões sobretudo na região fronteiriça entre os dois países", explicou.

Os analistas destacam, no entanto, que Israel não demonstra interesse em ampliar o confronto para o país vizinho, mas para um grupo específico que atua a partir da fronteira norte: o Hezbollah.

Rudzit explica que o governo libanês não tem nenhum controle sobre a atuação dessa facção, classificada pelos analistas como "um estado dentro do Estado libanês".

"O grupo é um partido político que elege 27 deputados, ou 21% das cadeiras, tem escolas e hospitais próprios, e o braço armado, que funciona como um exército próprio. Esta força é até mais forte que o exército libanês, já que conta com o apoio, treinamento e financiamento do Irã", afirma.

Caichiolo destaca que a milícia libanesa mantém atualmente um braço militar com estimativas em torno de vinte mil combatentes e um arsenal de drones, foguetes e tanques, que são usados nos ataques contra o território israelense.

Segundo os analistas de política internacional, tendo em vista que o Hezbollah controla o sul do Líbano, a tensão entre seus militantes e soldados israelenses deve prosseguir sem possibilidade de intervenção do governo libanês, que poderia inclusive impulsionar conflitos internos com a facção.

Hipóteses baixas de um conflito direto entre países

O aumento dos ataques ao território israelense pelo Hezbollah aumentam as chances de um conflito entre os lados, algo que não é visto desde 2006, quando militares israelense e combatentes da milícia entraram em guerra.

Para Rudzit, há uma probabilidade alta de que um novo enfrentamento ultrapasse os limites da fronteira. "Assim, haveria uma guerra entre as Forças de Defesa de Israel e o Hezbollah, não contra o exército Libanês, como foi na Guerra de 2006". O especialista ressalta que o possível conflito provocaria um êxodo em massa da população que vive na localidade.

Caichiolo lembra que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já afirmou que está preparado para uma "ação muito intensa" na região norte de Israel, para revidar os ataques da milícia libanesa, "ainda que não seja de seu interesse a ampliação do conflito e das frentes de atuação israelense na região".

"Fato é que o poder político e autonomia que o Hezbollah possui faz com que a hipótese de uma normalização das relações entre Israel e o Líbano sejam sempre bastante reduzidas", pontua.

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