As Forças Armadas da Bolívia denunciaram nesta sexta-feira (1º) que “grupos armados irregulares”, vinculados ao ex-presidente Evo Morales, tomaram um quartel militar localizado na cidade de Cochabamba, fazendo ao menos 20 militares reféns, e confiscando armas e munições. Por meio de um comunicado emitido nas redes sociais, o Alto Comando das Forças Armadas bolivianas qualificou o ato como "traição à pátria" e destacou que a situação representa um "atentado contra a segurança e soberania do Estado".
O ataque dos “evistas” ocorreu no quartel Cacique Juan Maraza, localizado em uma área da cidade considerada reduto de apoio ao ex-presidente socialista. Segundo o comunicado militar, as Forças Armadas exortam os responsáveis a "depor as armas e abandonar as instalações de forma imediata e pacífica”. Além disso, enfatizaram que os militares feitos reféns “são filhos do povo, cumprindo seu sagrado dever com a pátria”.
Evo novamente denunciado por tráfico de pessoas e estupro
Simultaneamente aos ataques contra o quartel, novos relatos de acusações de crimes graves contra Evo vieram à tona nesta sexta-feira. Tatiana Herrera, secretária de Gênero do município de Cochabamba, onde está o quartel atacado, denunciou que pelo menos cinco famílias tentaram registrar nos últimos dias queixas contra Morales por crimes de tráfico de pessoas e estupro que teriam ocorrido durante os últimos cinco anos, mas foram impedidas de se deslocar à cidade de Cochabamba devido a bloqueios rodoviários promovidos pelos apoiadores de Morales.
Herrera explicou que as famílias relataram que filhas menores de idade foram levadas da cidade de Cochabamba para a capital da Bolívia, La Paz, sem consentimento dos pais, frequentemente por intermediários ligados aos sindicatos da província de Chapare, local onde Morales mantém forte influência política e sindical. Segundo Herrera, uma das mães das vítimas alegou que sua filha teve um filho com Morales após sofrer abuso.
“Ela está aterrorizada porque acha que o senhor Morales enviará alguém para machucá-la”, declarou Herrera.
As acusações recentes agravam a situação do ex-presidente, que já é investigado pelo Ministério Público boliviano por tráfico de pessoas e estupro em um caso envolvendo uma menor de idade, com quem teria tido uma filha em 2015. A promotora Sandra Gutiérrez, que lidera a investigação no departamento boliviano de Tarija, informou que possui “provas materiais” contra Morales, mas ainda não emitiu um mandado de prisão contra ele.
O governo do presidente Luis Arce anunciou recentemente que “protegerá” as vítimas e familiares, permitindo que possam registrar suas queixas junto ao Ministério Público. Arce também emitiu um ultimato aos apoiadores de Morales para que liberem as rodovias bloqueadas, em meio a uma disputa interna pelo controle do partido Movimento ao Socialismo (MAS) e pelo poder no país.
Morales, confinado há quase três semanas em Cochabamba, onde enfrenta o risco de uma prisão iminente, criticou as ações de Arce, comparando-o à ex-presidente interina Jeanine Áñez, que ele alega ter participado de um “golpe de Estado” contra ele em 2019. Em carta aberta, Morales afirmou que a repressão atual marca um "período sombrio e lamentável" para a Bolívia sob o governo de Arce.