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Os Estados Unidos tiveram pouco apoio no mundo árabe em 2003, época da invasão do Iraque. E agora, num eventual confronto militar com o Irã, motivado pelo programa nuclear de Teerã, Washington não deve esperar apoio maior.

Alguns árabes, principalmente fora do golfo Pérsico, são totalmente favoráveis ao programa nuclear iraniano, mesmo que o país obtenha armas nucleares. Para eles, o programa iraniano representaria no mínimo um ponto para contrabalançar o poderio israelense e norte-americano.

Já outros, especialmente nos países mais próximos ao Irã, temem as ameaças ao status quo e a instabilidade que tal programa poderia trazer.

A maior parte do mundo árabe considera hipócrita a campanha norte-americana e européia contra o Irã, pois Israel há anos recusa-se a permitir inspeções nucleares internacionais, e acredita-se que o país possua cerca de 200 ogivas atômicas.

- Quero toda a região livre de armas nucleares, mas, como o Ocidente continua usando dois pesos e duas medidas nessa questão, o Irã tem direito (de possuir armas) - disse Abdel-Rahman Za'za', de 29 anos, um engenheiro libanês. - Isso poderia garantir algum equilíbrio contra Israel e ajudar os palestinos em suas negociações. Temos de lutar por nossos direitos, porque eles não nos serão garantidos de graça.

A Irmandade Muçulmana, maior grupo de oposição do Egito, disse esta semana que não vê mal no fato de o Irã desenvolver armas nucleares.

- Criaria uma espécie de equilíbrio entre os dois lados -- o árabe e islâmico, de um lado, e o de Israel, de outro - afirmou o vice-líder da organização, Mohamed Habib.

O presidente da Liga Árabe, Amr Moussa, disse na terça-feira que as políticas sobre programas nucleares na região precisam de uma reavaliação profunda.

- Essas políticas, que se baseiam em parâmetros desiguais, vão desmoronar e fazer com que a questão aumente de proporção, incluindo mais que apenas Irã e Israel - afirmou ele. A Liga Árabe representa 22 governos árabes.

O Irã afirma que não tem intenção de produzir armas nucleares, mas que quer produzir urânio enriquecido para gerar eletricidade. Os EUA dizem não acreditar nos fins pacíficos do programa nuclear.

Para analistas, foi surpreendente o nível de solidariedade e apoio ao Irã na região. "É impressionante o quanto as pessoas estão apoiando. Algumas acham que os iranianos estão a caminho de obtê-las (as armas nucleares) e estão empolgadas," disse Hesham Kassem, editor do jornal independente Al Masry Al Youm, do Cairo.

- Aparentemente não há consciência de que pode ocorrer uma calamidade - acrescentou Kassem, que se disse pessoalmente temeroso de uma corrida armamentista que envolva Arábia Saudita, Egito e Turquia.

Mohamed el-Sayed Said, vice-diretor do Centro Ahram para Estudos Políticos e Estratégicos, no Cairo, disse: "As pessoas estão muito receptivas (ao programa nuclear iraniano)".

- Qualquer um que desafie os EUA encontrará grande apoio. É uma empreitada muito lucrativa em termos de opinião pública. - As pessoas não se importam nem que haja uma corrida armamentista. O que vemos é uma dignidade abalada pela parcialidade e pela adoção de dois pesos e duas medidas.

A maioria dos governos árabes já pediu uma solução pacífica para o confronto com o Irã. Quando as administrações mencionam armas nucleares, costumam dizer que todo o Oriente Médico deveria estar livre dessas armas, incluindo Israel, em termos implícitos.

Mas há quem se preocupe. "Os Estados do Golfo estão verdadeiramente preocupados com a entrada do Irã no clube nuclear," disse Abdel-Khaleq Abdullah, professor de ciência política nos Emirados Árabes Unidos. "Não temos como suportar a possibilidade de uma quarta guerra no Golfo. Não queremos isso."

Para o analista saudita Dawoud al-Sharayan, a obtenção de uma bomba nuclear pelo Irã poderia dar aos EUA um pretexto para manter suas forças militares na região. Se isso ocorresse, a Arábia Saudita teria o direito de pensar em conseguir sua própria bomba, afirmou.

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