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Cáucaso

Após 6 anos, terror volta a abalar a Rússia

Manifestantes carregam pôster que diz “Não ao terrorismo” em São Petersburgo: população russa se assustou com retorno do conflito a seu território | Alexander Demianchuk/Reuters
Manifestantes carregam pôster que diz “Não ao terrorismo” em São Petersburgo: população russa se assustou com retorno do conflito a seu território (Foto: Alexander Demianchuk/Reuters)
Veja as regiões russas onde há conflitos separatistas |

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Veja as regiões russas onde há conflitos separatistas

A população russa está com me­­do novamente. Os três ataques ocorridos na última semana, que mataram ao menos 53 pes­­soas, destruíram a ideia de que os grupos separatistas da Che­­chênia haviam sido controlados pelo Kremlin. O primeiro e mais mortal dos atentados, ocorrido na manhã da segunda-feira em estações de metrô de Moscou, pôs fim a seis anos de trégua nos ataques à capital.

A sensação de que ao menos a sede do poder político estava segura foi construída pela retórica do ex-presidente e atual primeiro-ministro, Vladimir Putin. Ao assumir a Presidência, em 2000, Putin tinha como um dos principais desafios lidar com os conflitos na região norte do Cáu­­caso – que desembocaram em duas guerras sangrentas ao longo dos anos 90. Uma das principais medidas tomadas por Putin foi mudar o processo de escolha dos governadores das províncias semiautônomas da região. Em vez de eleições, as autoridades locais passaram a ser nomeadas por Moscou.

Além disso, as tensões internas entre os estados do Cáucaso obrigaram os grupos separatistas a dividir as frentes de batalha (veja no mapa ao lado). Os ataques ficaram concentrados na região, o que contribuiu para que os moscovitas se sentissem protegidos do conflito que ocorria 1,5 mil quilômetros ao sul.

E, ainda, os ganhos reais da política russa para o separatismo foram inflados pela propaganda que o Kremlin fez de si mesmo. "Entre 2004 e 2007, Moscou conduziu uma campanha para conquistar ‘corações e mentes’ chechenos que encolheu a oposição local e fez a resistência às políticas russas se tornarem passivas", disse à Gazeta do Povo o cientista político Zoltan Barany, professor na Universidade do Texas e autor de Colapso Democrático e o Declínio do Militarismo Russo (em tradução livre, sem edição em por­tuguês). "Mas a população russa, em geral, não estava totalmente por dentro do que acontecia no norte do Cáu­­caso. A im­­prensa no país não é totalmente livre. Existem alguns jornais relativamente sem censura, mas a maior parte das pessoas se informa pela mídia eletrônica, e virtualmente todas as emissoras de televisão e rádio estão sob controle do Kremlin", relata.

Para Angelo Segrillo, professor de História da Universidade de São Paulo formado pelo Ins­­tituto Pushkin de Moscou, os atentados reaproximam a Rússia de seu problema histórico. "Ne­­nhum russo tinha a ilusão de que os conflitos separatistas ha­­viam acabado, mas muitos ti­­nham a impressão de que o perigo de atentados terroristas frequentes tinha se concentrado mais nas regiões do Cáucaso (pró­­ximas à Chechênia) do que na capital e no centro da Rússia. Os ataques podem ter mudado essa percepção, o que é psicologicamente importante", avalia.

Terra de ninguém

O principal motivo para o norte do Cáucaso pertencer à Fede­­ra­­ção Russa é o interesse estratégico em ter uma "cortina de ferro" entre o país e o Oriente Médio. Historicamente, a região desenvolveu uma cultura própria. Entre idas e vindas, o Cáu­­caso foi independente ou pertenceu ao império iraniano. No início do século 19, o império russo conquistou o território após combater a dinastia persa Qajar.

A criação de um estado islâmico independente naquele pe­­daço do país é repudiada de ma­­neira intransigente pela Rús­­sia, que sofreu um significativo desmembramento após o fim da União Soviética.

"A atitude do governo russo tem a ver com a teoria do dominó. Como há dezenas de etnias e nacionalidades diferentes na Rússia, se uma delas – por exemplo, os chechenos – conseguir independência, os governantes russos temem que outras sigam o exemplo e o país se esfacele em conflitos étnicos", explica Segrillo.

Como a negociação não é uma opção, sobra ao Kremlin decidir qual será a intensidade da resposta que será dada aos separatistas chechenos. Em declaração feita após os atentados, o presidente Dmitri Medvedev subiu o tom e prometeu uma "resposta cruel".

Barany acredita que a escalada terrorista chechena é responsabilidade desta mesma política de mãos pesadas. "Desde 2007 a Chechênia é governada por trogloditas, nomeados por Moscou, que brutalizam a população lo­­cal. Não é uma coincidência que os terroristas sejam mulheres cu­­jos maridos e filhos foram mortos pelas forças do governo."

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