Um feminicídio no Equador desencadeou uma onda de violência contra venezuelanos e levou o governo a tomar medidas mais rígidas em relação a esses imigrantes.
Após uma equatoriana grávida ser assassinada por seu companheiro venezuelano na cidade de Ibarra, no norte do país, parte da população começou a desalojar imigrantes dessa nacionalidade em hotéis, casas e parques onde dormiam e exigir que abandonem a cidade, a principal no caminho para o interior do Equador.
É o primeiro assassinato cometido por um imigrante venezuelano no Equador desde que centenas de milhares chegaram ao país, fugindo da crise econômica e política.
Leia também: Militares se rebelam contra Maduro e são presos horas depois
O governo pediu calma à população, mas anunciou que vai exigir atestado de antecedentes criminais dos venezuelanos que tentarem entrar no país
"O agressor, neste caso, é um cidadão estrangeiro, o que poderia provocar uma generalização que só trará mais violência. É o momento de lembrar que o nosso também é um povo migrante", disse nesta segunda o vice-presidente do país, Otto Sonnenholzner, que tem ascendência alemã e libanesa.
"Sem generalizar, mas com mão firme, hoje temos que diferenciar entre os venezuelanos que estão fugindo do governo Maduro e outros que tiram vantagem da situação para cometer crimes", disse o vice.
O crime aconteceu quando o homem, que mantinha a companheira refém e a segurava pelo pescoço, a esfaqueou em plena rua, mesmo rodeado por policiais que apontavam armas para ele.
Segundo o vice-presidente, os agentes poderão sofrer sanções por não terem conseguido salvar a vida da mulher.
Após o crime, no fim de semana, o presidente do Equador, Lenin Moreno afirmou que vai criar unidades para checar o status legal dos venezuelanos "nas ruas, nos ambientes de trabalho e nas fronteiras".
Leia também: Como o Equador fez um negócio da China - e arranjou uma dívida monstruosa
O Equador estima que 1,3 milhão de venezuelanos entraram no país no último ano, apesar de muitos deles terem ido para outros países.
O governo de Nicolás Maduro acusou o Equador de incitar a perseguição aos venezuelanos.
"O presidente Lenín Moreno e seu governo incitaram uma perseguição fascista contra os venezuelanos no Equador. São responsáveis pela segurança e integridade de nossos compatriotas", escreveu, no Twitter, o chanceler venezuelano, Jorge Arreaza.
Segundo Sonnenholzner, Caracas se recusa a dar a Quito informações sobre seus cidadãos que querem migrar para o Equador. No ano passado, a Argentina reduziu as exigências para imigrantes venezuelanos levando em conta que muitos têm dificuldades para tirar documentos em seu país, incluindo o certificado de antecedentes.
Apesar dos pedidos das autoridades equatorianas para que seus cidadãos não usem a violência contra os imigrantes, representantes da comunidade venezuelana no país dizem que eles têm sofrido ataques e ameaças após o assassinato e os comentários de Moreno.
Mulheres e crianças venezuelanas foram atacadas no terminal rodoviário de Ibarra, quando tentavam fugir para a capital, Quito, relata Febres Cordero, da Federação de Venezuelanos no Exterior.
"Estamos preocupados com atos xenofóbicos que ocorreram em várias cidades pelo país", disse.
Segundo ele, quatro venezuelanos teriam morrido em Ibarra e 82 ficaram feridos no resto do país, mas a polícia informou que "não há cidadãos venezuelanos mortos ou feridos" nesses incidentes.
Mulheres foram às ruas no domingo e nesta segunda para se mobilizar contra a violência de gênero no país.