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Após ataque, região que reúne imigrantes do Uzbequistão em NY teme rejeição americana

Veículo usado pelo terrorista para atropelar ciclistas e pedestres em Manhattan, Nova York | SPENCER PLATT/AFP
Veículo usado pelo terrorista para atropelar ciclistas e pedestres em Manhattan, Nova York (Foto: SPENCER PLATT/AFP)

No salão do Emir Palace, um restaurante com espalhafatosos lustres de acrílico e papel de parede dourado no miolo do Brooklyn, um assunto dominava a conversa.  "Ele não veio para cá desse jeito. Era contador, um cara de mente aberta, que estudou. Foi aqui que ficou desse jeito", dizia o garçom, que se identificou só como Java, sobre Sayfullo Saipov, o imigrante do Uzbequistão que atropelou e matou oito pessoas num ataque terrorista nesta semana em Manhattan.  

Nesse pedaço de Nova York onde fica o maior enclave de moradores vindos do país asiático em território americano, a ficha corrida do suspeito que domina as manchetes reverbera com mais força.  

O Pequeno Uzbequistão, como ficaram conhecidos os distritos de Kensington e Borough Park, no Brooklyn, é uma ilha de tranquilidade. Sobrados branquinhos se enfileiram ao longo de ruas arborizadas, placas anunciam frutas e verduras em russo e restaurantes seduzem clientes com decoração kitsch.  

Da mesma forma que Saipov, muitos dos 12 mil uzbeques na maior cidade americana entraram nos EUA sorteados na loteria dos chamados "vistos da diversidade" -programa agora na mira do presidente Donald Trump.  "Todo mundo aqui veio por essa loteria. Meu irmão veio, depois eu vim, depois minha irmã", dizia o pedreiro uzbeque Suhrob Umarob, há sete anos nos Estados Unidos. "Esse cara não presta, não batia bem. E agora Trump diz que vai cancelar os vistos."  

Dano colateral  

Umarob, no caso, teme que uma reação dura do governo ao atentado possa respingar neles - o Uzbequistão é o terceiro país mais beneficiado pelo sorteio de vistos, com 29 mil permissões de entrada entregues nos últimos 12 anos. O número de uzbeques nos Estados Unidos triplicou no período.  

"Somos todos muçulmanos, mas outro tipo de muçulmano, não vamos à mesquita todo dia. E eu bebo, adoro vodca. Aqui, numa sexta, não tem espaço nenhum, fica lotado, todo mundo dançando, todo mundo bebendo", dizia ele, mostrando o salão vazio.  

O estudante de medicina Akmal Salimov, que deixou o Uzbequistão ainda criança, também teme que o ato de Saipov possa manchar a imagem de seu país nos Estados Unidos.  "Somos da mesma cultura, mas olhando para mim você vê que não tenho nada a ver com ele", disse. "Meus amigos na faculdade ainda olham para mim da mesma maneira, mas tenho medo que mudem essa atitude."  

Isso, aliás, reacende o pavor dos moradores do Pequeno Uzbequistão. Há dois anos, a polícia nova-iorquina prendeu três uzbeques e um homem do Cazaquistão no mesmo bairro, acusados de tentarem se filiar ao Estado Islâmico, grupo extremista ao qual Saipov jurou lealdade.

Num mercado da vizinhança, onde açougueiros uzbeques retalhavam peças de carne, mulheres grávidas atrás do balcão comentavam o mais recente ato terrorista.  "Estamos em choque. Mas pessoas de qualquer cultura, qualquer nacionalidade podem fazer essas coisas", dizia Mohi, a gerente da loja, que não quis informar seu sobrenome. "Não gosto de estereotipar pessoas, mas sinto que os americanos podem se voltar contra a gente."  

Ela, que usava túnica de veludo com detalhes brilhantes, chegou há mais de uma década. Sua loja, com atendentes de Guatemala, Rússia e Tajiquistão e fregueses falando em russo, espanhol e hebraico, reflete um bairro onde culturas se misturam.  

"Nenhum deles causa problemas aqui", dizia a vendedora Lila Alyiev, que veio do Azerbaijão, sobre os vizinhos uzbeques. "Eles estão sempre falando, sorrindo. Vivemos como uma grande família."  

Muitos ali se esforçam para entender o motivo do ataque, atribuindo a violência ao estilo de vida americano.  "Somos todos amigos na vizinhança. Não tem a ver com o lugar de onde se vem", dizia David Razeilov, dono de venda. "Mas alguma coisa mudou na cabeça dele de repente. As pessoas surtam. A vida não é fácil na América."

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