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A Rússia alega que encontrou alternativas a mercados que lhe foram fechados com as sanções decorrentes da invasão à Ucrânia. O governo estima que o PIB russo deve sofrer uma contração de apenas 2,9% em 2022 (o Fundo Monetário Internacional projeta uma retração um pouco maior, de 3,4%), enquanto em março a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (Unctad) havia estimado uma redução de 7,3% para este ano.
Entretanto, o Kremlin se preocupa com a situação do emprego: na semana passada, o ministro do Desenvolvimento Econômico, Maxim Reshetnikov, admitiu em entrevista a um canal de TV estatal a dificuldade para encontrar mão de obra no país.
“É claro que estamos muito preocupados com o mercado de trabalho, porque, de fato, está ocorrendo uma falta [de mão de obra] no momento e isso está provocando retração [na economia]”, explicou Reshetnikov.
Essa crise começou em setembro, quando o presidente russo, Vladimir Putin, anunciou a convocação de 300 mil reservistas para aumentar o esforço de guerra na Ucrânia. Além da falta dessa mão de obra, estima-se que outras centenas de milhares de trabalhadores fugiram do país para escapar do recrutamento.
Em novembro, especialistas do Instituto Gaidar de Política Econômica apontaram, em reportagem do jornal Kommersant, que a economia da Rússia está passando pela maior escassez de trabalhadores desde 1993.
Segundo os analistas, até um terço das indústrias russas pode enfrentar uma escassez recorde de mão de obra, com o setor de indústrias leves apresentando o pior resultado, um déficit de 70% de trabalhadores.
Com essa dificuldade para contratar, o governo russo tem recorrido a medidas extraordinárias para aumentar a oferta de mão de obra. Recentemente, o Rússia Unida, partido de Putin, anunciou um projeto de lei para afrouxar as leis trabalhistas e permitir que adolescentes a partir de 14 anos de idade sejam contratados com mais facilidade.
A proposta estipula que jovens de 14 a 18 anos não precisariam mais do consentimento de um responsável ou de uma agência de serviço social para conseguir um emprego, e os empregadores não precisariam mais pagar pelos exames médicos de menores que desejem trabalhar para eles.
O presidente da Comissão de Política Juvenil da Duma (câmara baixa do Parlamento russo), Artyom Metelev, afirmou que há estudos que apontam que “nove em cada dez adolescentes gostariam de começar a trabalhar antes dos 18 anos, mas não conseguem encontrar um emprego oficialmente”.
“Temos uma juventude ativa, a rapaziada quer crescer e se desenvolver, quer ter experiência de trabalho, mas não há mecanismos eficazes para isso agora”, justificou Metelev. “Eles têm que enfrentar inúmeros controles, burocracia e obter autorizações, simplesmente não é lucrativo para os empregadores.”
Fim das cotas para os uzbeques
Em novembro, para atrair mais mão de obra, o governo russo suspendeu cotas para trabalhadores do Uzbequistão. Limites criados no ano passado permitiam que apenas cerca de 11 mil trabalhadores daquele país fossem empregados regularmente na Rússia nos setores de construção (10 mil vagas) e agroindustrial (1.108 postos de trabalho) – estima-se que o número de trabalhadores uzbeques ilegais e/ou informais na Rússia seja bem maior.
Entretanto, o fim dessas cotas não é garantia de que o problema criado por Putin será resolvido, já que o próprio caso dos uzbeques ilustra outro desafio para a Rússia gerado pela guerra: a dificuldade de atrair e reter trabalhadores imigrantes.
Pouco antes da mobilização de reservistas, apenas 4,5 mil vagas das 10 mil então permitidas para trabalhadores da construção uzbeques estavam ocupadas, segundo números publicados pela Eurasianet.
De acordo com dados do Serviço Federal de Estatísticas do Estado Russo, nos primeiros oito meses de 2022, 47,6 mil uzbeques deixaram a Rússia, enquanto no mesmo período no ano passado 19,9 mil haviam saído.