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Crise na Argentina

Após dura carta de Kirchner, Fernández busca formar novo gabinete para sair da crise

A vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, escreveu uma carta em que pede mudanças no governo argentino (Foto: EFE/Juan Ignacio Roncoroni/ Arquivo)

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O presidente da Argentina, Alberto Fernández, busca uma saída para a crise política desencadeada no governo com a renúncia de vários ministros da ala kirchnerista em decorrência da derrota do partido governista nas primárias legislativas do último domingo. Nesta sexta-feira, Fernández está reunido com assessores na Casa Rosada para debater a formação um novo gabinete, continuando o trabalho que teve início na quinta-feira na residência presidencial. Espera-se uma definição nas próximas horas.

A vice-presidente da Argentina, Cristina Fernández, quebrou o silêncio na quinta-feira e pediu ao presidente Alberto Fernández que "honre a vontade do povo".

Em longa carta publicada no Twitter na qual afirmou que entende como necessárias trocas ministeriais depois do desastre eleitoral, Cristina Kirchner lembrou a Alberto Fernández que foi ela quem propôs sua candidatura à presidência nas eleições de 2019 com ela como vice, e lhe pediu-que "honre aquela decisão".

"Mas, acima de tudo, tomando também suas palavras e convicções, o que é mais importante que qualquer outra coisa: que ele honre a vontade do povo argentino", acrescentou.

Nesta sexta-feira, fontes do governo disseram ao jornal La Nación que a carta "mostra as diferenças de visão entre eles. Mas a frente é maior e devemos trabalhar hoje para salvar a unidade".

Fernández deve ceder à pressão de Kirchner e ordenar a saída do seu chefe de gabinete, Santiago Cafiero, seu homem de confiança, relatou o Clarín. Também devem deixar o governo vários dos funcionários kirchneristas que apresentaram renúncia na quarta-feira, assim como vários outros que não colocaram seus cargos à disposição.

A vice-presidente destacou que, nas primárias para as eleições legislativas, o peronismo sofreu uma derrota eleitoral "sem precedentes" e que não é ela quem está colocando o presidente contra a parede, mas sim "o resultado da eleição e a realidade".

Fernández cancela viagens ao exterior

O presidente argentino Alberto Fernández suspendeu suas viagens ao exterior, incluindo a visita ao México para a cúpula de sábado entre chefes de Estado da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), "para terminar de definir as medidas econômicas que serão anunciadas nos próximos dias".

Além de cancelar a sua participação na reunião com os líderes latino-americanos da Celac - grupo que a Argentina espera presidir em 2022, se receber o apoio necessário -, o presidente não participará pessoalmente da 76ª Assembleia Geral das Nações Unidas, mas com um vídeo gravado. Caso ele viajasse ao exterior, a vice Cristina Kirchner o substituiria.

Como a crise começou

A origem da crise data do domingo passado, quando as listas de pré-candidatos a deputado e senador da principal coligação da oposição, Juntos pela Mudança, receberam mais votos do que as da governista Frente de Todos na maioria das províncias durante as primárias em que os cidadãos deveriam escolher os candidatos para as eleições legislativas de 14 de novembro.

Apenas três dias após a derrota e de acordo com fontes oficiais, o ministro do Interior, Eduardo "Wado" de Pedro, e vários outros ministros, todos membros da ala kirchnerista do governo, liderada pela ex-presidente e atual vice Cristina Kirchner, colocaram os cargos à disposição do presidente, que está avaliando se vai ou não aceitar as renúncias.

Mudanças no gabinete

Depois de "tal catástrofe política", a vice-presidente argentina disse que "alguns funcionários do governo foram ouvidos, e parecia que nada havia acontecido no país, fingiam normalidade e, acima de tudo, se prendiam em seus assentos".

"Eles realmente acreditam que não é necessário, após tal derrota, apresentar publicamente as renúncias e tornar conhecida a atitude dos funcionários públicos em facilitar a reorganização do presidente de seu governo?", perguntou Cristina. Ela revelou que na última terça-feira, por sua iniciativa e após 48 horas sem conseguir contato, teve sua mais recente reunião com o presidente.

No encontro, Cristina afirmou que "era necessário relançar o governo" e propôs nomes como o governador de Tucumán, Juan Manzur, para substituir Santiago Cafiero como chefe de Gabinete.

A vice-presidente advertiu que não vai continuar tolerando o que definiu como operações de imprensa que o porta-voz do presidente, através de sua própria comitiva, está realizando contra ela e "contra nosso espaço político".

"O porta-voz presidencial é um caso raro: um porta-voz presidencial cuja voz ninguém conhece. Ou ele tem alguma outra função que desconhecemos, como fazer operações em off, por exemplo? Um verdadeiro mistério", disse.

Cristina também confirmou que havia conversado com o ministro da Economia, Martín Guzmán, "quando foi falsamente divulgado que, na reunião que tive com o Presidente da Nação, eu havia pedido sua renúncia. As operações são permanentes e, no final, só acabam desgastando o governo".

Críticas à gestão econômica

Cristina Kirchner destacou que, antes das eleições, em suas reuniões com o presidente, ela manifestou a opinião de que "estava sendo realizada uma política errada de ajuste fiscal, o que estava tendo um impacto negativo na atividade econômica e, portanto, na sociedade como um todo, e que isso, sem dúvida, teria consequências eleitorais".

A vice-presidente mostrou confiança de que o presidente não apenas "relançará seu governo, como se reunirá com seu ministro da economia para analisar os números do orçamento".

Ela salientou que, de acordo com a previsão orçamentária, 2,4% do PIB ainda não foi gasto. "Mais do dobro da quantia executada e faltando apenas quatro meses para o final do ano... com uma pandemia e uma situação social muito delicada", comentou.

"Não estou propondo nada louco ou radical. Pelo contrário, estou simplesmente captando o que neste contexto global de pandemia está acontecendo em todo o mundo, dos Estados Unidos à Europa e também em nossa região: o Estado atenuando as trágicas consequências da pandemia", acrescentou.

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