Depois de mais um impasse nas negociações sobre o uso da energia gerada pela usina hidrelétrica de Itaipu, os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Fernando Lugo anunciaram nesta sexta-feira que voltarão a se reunir em junho, no Paraguai, para retomar as conversas sobre o tema.
Os presidentes de Brasil e Paraguai tentam chegar a um entendimento a respeito da demanda paraguaia de um aumento do preço da energia gerada pela usina binacional que é vendida ao Brasil e da permissão para vender parte da energia a que tem direito a outros países. O Brasil, entretanto, descarta alterar o contrato firmado pelos dois países.
"O Paraguai não renunciou a nenhuma de suas reivindicações", afirmou Lugo a jornalistas ao lado de Lula, na Base Aérea de Brasília.
O presidente paraguaio aproveitou a entrevista para passar recados ao governo brasileiro.
"Creio que o respeito é um princípio máximo nas relações bilaterais com o Brasil", declarou. "E sobretudo pensamos os paraguaios e o governo do paraguai que também se dá no marco da recuperação da dignidade de todos os paraguaios."
Lugo, que enfrenta delicada situação política por causa das denúncias de que teve filhos quando ainda atuava como bispo, fez da renegociação do tratado de Itaipu uma das suas principais bandeiras durante a campanha eleitoral.
Destacando que o colega se apresenta como "uma esperança renovada" ao povo do país vizinho, o presidente brasileiro demonstrou otimismo com o progresso das negociações.
"Embora não tenhamos assinado nenhum acordo, a reunião foi produtiva porque detectamos pontos que nós temos avançar", disse Lula.
"O Brasil disse ao Paraguai que nós temos interesse de avançar em todas as áreas", acrescentou, ponderando que Itaipu é um tema muito sensível e "nervoso" para os dois países. "Não existe tabu nas nossas conversações... Estou convencido de que nós poderemos avançar."
Lula também rebateu as críticas de Lugo, que na véspera disse que não interessava a ninguém ter um "vizinho pobre".
"É uma filosofia do nosso governo garantir que os países que têm fronteira com o Brasil tenham possibilidade de ter o mesmo desenvolvimento que tem o Brasil. Não queremos ser uma ilha de prosperidade no continente cercada por países com dificuldades", disse.
O tratado de Itaipu estabelece que cada país tem direito a 50 por cento da energia produzida pela usina, que tem capacidade para gerar 14 mil megawatts. Determina, entretanto, que, caso o Paraguai não utilize sua parte, a energia deve ser vendida ao parceiro. Com isso, o Brasil acaba consumindo 96 por cento da energia gerada.
O Brasil ofereceu ao vizinho um pagamento maior pela cessão da energia --valor que no ano passado totalizou 130 milhões de dólares--, a construção de uma linha de transmissão para que o Paraguai aproveite melhor a energia de Itaipu, uma subestação, uma linha de crédito no Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e um fundo de investimentos. Aceitou ainda que a direção da usina binacional seja paritária.
No entanto, segundo Lula, o Paraguai não aceitou. "O presidente Lugo entendeu que era preciso aperfeiçoar algumas coisas e colocar mais coisas."