O jornal Zaman, crítico ao governo da Turquia e colocado sob controle das autoridades desde a última sexta-feira (4), foi às bancas neste domingo (6) com uma linha editorial totalmente distinta e agora favorável ao presidente do país, o islamita Recep Tayyip Erdogan.
Se na edição de sábado (5) o “Zaman” apresentou uma primeira página com um fundo preto e a frase “Constituição suspensa”, em protesto contra a intervenção, a manchete de hoje fala sobre uma cerimônia oficial para anunciar a construção da terceira ponte sobre o estreito de Bósforo, em Istambul.
Também há na capa desde domingo uma foto de Erdogan, acompanhada da notícia que o líder promoverá uma recepção no Palácio Presidencial em homenagem ao Dia da Mulher. Além disso, foi publicada também uma nota sobre a possível retirada da imunidade parlamentar de deputados curdos, medida defendida pelo presidente.
Os conteúdos foram retirados da versão turca do site do “Zaman”. Ao acessar a página, o leitor lê a seguinte mensagem: “Em breve voltaremos com notícias de qualidade e neutras”. Por outro lado, a página em inglês do jornal permanece sem alterações desde ontem.
Até a intervenção promovida pelo governo na sexta-feira após uma ordem judicial, o “Zaman” tinha uma linha editorial dura contra o governo, criticando tanto o desempenho da economia, a política externa na Síria e os ataques à liberdade de imprensa.
Abdulkadir Bilici, editor-chefe do jornal, foi proibido pelos policiais de entrar na redação do “Zaman” ontem. Os agentes de segurança que cercam e controlam a entrada do prédio disseram ao jornalista que seu contrato expirou.
O “Zaman” foi colocado sob o controle de uma equipe de gestores escolhida pelo governo. A polícia, que invadiu a redação do jornal em Istambul na noite de sexta-feira, já utilizou duas vezes gás lacrimogêneo e canhões de água para dispersar manifestantes contrários à intervenção do Executivo.
A apreensão do jornal ocorreu após as acusações de que o “Zaman” é ligado à rede do líder religioso Fetullah Güllen, acusado pelo governo de tentar criar um “Estado paralelo” na Turquia usando sua influência no Judiciário e na polícia.
O movimento de Gülen foi um aliado próximo de Erdogan até 2013, quando os veículos de imprensa ligados ao líder religioso se somaram às vozes que acusavam o então primeiro-ministro de corrupção. Desde então, Gülen é considerado suspeito de liderar um movimento terrorista que busca derrubar o governo.