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Censura na Rússia

Após negação do pai, ucraniano lança site para convencer parentes russos da guerra

Ucraniano Misha Katsurian e o pai, Andrei Katsurian, que mora na Rússia e não acreditava na guerra na Ucrânia. (Foto: Reprodução Instagram)

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O ucraniano Misha Katsurin, 33 anos, criou uma plataforma para que ucranianos que têm parentes na Rússia possam convencê-los de que o ataque das tropas do presidente russo Vladimir Putin são reais. A proposta é de que o site Papa, Pover ("pai, acredite" tanto em ucraniano quanto em russo) publique relatos da destruição na Ucrânia para convencer parentes na Rússia, mas sem ódio. "Temos que uns escutar os outros", pede Katsurin, que até o início da guerra era proprietário de um restaurante na capital ucraniana Kiev.

Com a imprensa sob forte censura do governo Putin desde o início da guerra há duas semanas e a desativação de mídias sociais como Facebook e Instagram, boa parte da população da Rússia não acredita na invasão militar ao país vizinho e nem que milhões de pessoas tenham sido forçadas pelas tropas russas a deixar a Ucrânia.

O site papapover.com surgiu da própria experiência familiar de Katsurin, cujo pai, Andrei Katsurin, não acreditava na guerra. Isso mesmo com os relatos do filho, que teve que esconder a mãe, esposa e filhos em um bunker no metrô de Kiev para protegê-los dos bombardeios russos.

Três dias após a invasão de Putin, Katsurin estranhou o fato de o pai, um zelador que mora na cidade russa de Nizhny Novgorod e está em contato constante com o filho, não ter ligado para saber como estava a família na Ucrânia. O rapaz decidiu então ligar para o pai, que se negou veementemente a acreditar que Putin estava invadindo o país do filho.

Post do ucraniano Misha Katsurin sobre a negação do pai que mora na Rússia sobre a guerra de Putin. (Foto: Reprodução Instagram)

"Contei com detalhes o que que estava acontecendo. Meu pai respondeu que isso era bobagem, que não havia guerra e os russos estavam nos salvando dos nazistas", relatou Katsurin, cujo post no Instagram após a ligação para o pai está com mais de 233 mil curtidas neste domingo (12). Ainda de acordo com o morador de Kiev, o pai disse que os soldados russos estariam dando comida e roupas aos soldados ucranianos, e não atacando o país vizinho.

"Meu próprio pai não acredita em mim, sabendo que estou aqui e vejo tudo com meus próprios olhos", prosseguiu na postagem. "A sensação era de que estava falando com um surdo", relatou Katsurin em entrevista à Globo News neste domingo (12). No diálogo, o pai disse que os ucranianos sempre foram criados para odiar os russos e que a ação de Putin era sobre essa "justiça".

"Ligue para seus pais na Rússia"

Após encerrar a primeira ligação com apenas cinco minutos de conversa diante da negação do pai, Katsurin enviou para ele relatos de ucranianos, inclusive conhecidos da família, tentando se proteger dos bombardeios e fotos e vídeos de locais destruídos pelos ataques russos, incluindo áreas civis, como escolas e hospitais. "Liguei novamente para meu pai e tentei falar com ele com calma e sem raiva. Parece que o gelo quebrou", publicou Katsurin em outro post.

Depois da segunda ligação, Andrei enviou um e-mail para o filho admitindo que a guerra era horrível. "Ele entendeu que não se tratava apenas de uma operação especial da Rússia, como propaga Putin, mas sim uma guerra", relatou Katsurin à Globo News.

O site papapover.com, explica Katsurin, vai orientar os ucranianos sobre o que dizer e o que não dizer aos parentes na Rússia, "para não haver ainda mais brigas, e sim que para se ouvir uns aos outros". "Ligue para seus pais, mães, tias e tios na Rússia e compartilhe informações", finaliza o empresário ucraniano no Instagram.

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