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Autoridades argentinas se manifestaram após o pedido do promotor argentino Diego Luciani de condenação da ex-presidente e atual vice-presidente do país, Cristina Kirchner, a 12 anos de prisão e impossibilidade de exercer novos cargos públicos.
Kirchner fez críticas à Justiça e à imprensa através do Twitter. "Se faltou algo para confirmar que não estou perante um tribunal da Constituição, mas sim perante um pelotão de fuzilamento midiático-judicial, é me impedirem de exercer o direito de defesa perante os interrogatórios", escreveu.
O presidente Alberto Fernández fez coro com ela nas redes sociais. "Hoje é um dia muito desagradável para quem, como eu, foi criado na família de um juiz, foi educado no mundo do direito e leciona Direito Penal há mais de três décadas. Mais uma vez transmito o meu mais profundo carinho e solidariedade à vice-presidente", publicou Fernández.
O ministro da Economia da Argentina, Sergio Massa, que nos primeiros anos de governo kirchnerista dizia que "faria de tudo para prender os corruptos", publicou no Twitter que "é absurdo afirmar que a chefe do executivo era responsável por cada um de seus dependentes".
O caso Vialidad
Cristina Kirchner está em julgamento desde maio de 2019 no caso Vialidad, pelo suposto crime de associação ilícita e administração fraudulenta de verbas públicas. São julgados nesse caso possíveis irregularidades na concessão de 51 contratos de obras públicas na província de Santa Cruz a companhias do empresário Lázaro Báez durante os governos do falecido ex-presidente Néstor Kirchner (2003-2007) e de sua esposa e sucessora, Cristina Kirchner (2007-2015).
Era possível prever o pedido de condenação em uma audiência no começo do mês, quando Luciani afirmou que Néstor e Cristina Kirchner criaram um "autêntico sistema de corrupção".
O promotor insistiu nos primeiros minutos de sua argumentação no papel de Lázaro Báez, empresário "criado" para assumir negócios e fraudar o Estado. “De um dia para o outro ele passou de funcionário de banco a empresário da construção civil (…). De um dia para o outro, o Estado, com os impostos que todos os cidadãos pagam, confiou-lhe 78,4% das obras rodoviárias de Santa Cruz”, apontou Luciani.
Cristina Kirchner também foi acusada de contratar funcionários e gestores, entre eles o secretário de Obras Públicas José López, para manter essa máquina de corrupção "em uma cidade 57 vezes menor do que Buenos Aires, mas com fundos superiores". Santa Cruz teria sido escolhida por ser "o lugar ideal para fazer essas manobras com impunidade".
Sem respostas
Dias após ser eleita vice-presidente em 2019, Kirchner esteve em uma audiência do caso. Quando os juízes perguntaram se ela estava disponível para ser interrogada, Cristina respondeu: "Responder a perguntas? Perguntas precisam ser feitas a vocês".
Três anos depois, diante de um cenário político e econômico muito menos favorável a ela, a vice-presidente e ex-presidente da Argentina segue sem responder sobre como Báez, amigo de Néstor Kirchner, se tornou empreiteiro de obras públicas de Santa Cruz com uma empresa que fundou dias antes do início do primeiro governo kirchnerista. Também não explica o que levou a família Kirchner a fazer negócios privados com ele nas empresas de hotelaria, enquanto Báez ganhava licitações multimilionárias do Estado.
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