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No intervalo de uma semana, 11 pessoas foram mortas em três atentados em Israel. Segundo o jornal Times of Israel, trata-se do maior número semanal de mortes em ataques terroristas no país desde 2006, no final da Segunda Intifada. O receio de mais violência aumenta com a chegada do Ramadã, período com histórico de tensões em Israel.
O atentado terrorista mais recente ocorreu na terça-feira (29) na cidade de Bene Beraq, um dos principais centros da comunidade judaica ultra-ortodoxa israelense, no qual cinco pessoas foram mortas a tiros.
Antes disso, no domingo (27), outro ataque com armas de fogo foi registrado na cidade de Hadera, quando dois policiais israelenses foram mortos, e na terça-feira da semana anterior (22), quatro civis foram assassinados em Berseba, um deles atropelado e os outros a facadas.
O governo israelense emitiu alerta máximo e o primeiro-ministro do país, Naftali Bennett, pediu na quarta-feira (30) aos civis com porte de armas para que passem a levá-las sempre consigo.
“Cidadãos de Israel, esta não é nossa primeira ou nossa segunda onda de terrorismo”, declarou Bennett. “A sociedade israelense, quando posta à prova, sabe mostrar compostura, permanecer resiliente e estar à altura da ocasião.”
Além desse conselho, o governo israelense anunciou medidas para prevenir novos ataques (algumas já adotadas antes do terceiro atentado), como o reforço do policiamento com oficiais do exército e o envio de vários batalhões militares para pontos-chave da Cisjordânia ocupada e da área ao redor da Faixa de Gaza.
O ministro da Defesa, Benny Gantz, afirmou que está “preparado para recrutar imediatamente milhares de reservistas, que inundarão as ruas” de Israel.
Nos três casos, os quatro autores dos atentados – um palestino da Cisjordânia que já foi membro do Fatah, um árabe israelense que planejava se juntar ao grupo Estado Islâmico (EI) na Síria e dois outros árabes israelenses membros do EI – foram mortos a tiros.
Os ataques não foram reivindicados mas foram comemorados pelo Hamas, que comanda a Faixa de Gaza, e um integrante do grupo afirmou que o atentado mais recente teria sido uma resposta a uma cúpula diplomática realizada na véspera em Israel, quando ministros das Relações Exteriores de quatro países muçulmanos (Bahrein, Egito, Marrocos e Emirados Árabes Unidos) se reuniram com seus homólogos dos Estados Unidos e israelense – o que foi considerado uma traição por radicais islâmicos.
Entretanto, o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas, fez críticas após o ataque de terça-feira. “A morte de civis palestinos e israelenses só levará a uma maior deterioração da situação, enquanto todos lutamos pela estabilidade”, destacou.
Ramadã, Pessach e Páscoa no mesmo período
Alex Fishman, correspondente de assuntos militares do jornal israelense Yedioth Ahronoth, escreveu que “a bola está agora no campo de Israel” e que as autoridades de segurança precisam dar uma resposta sem revanchismo.
“Qualquer movimento equivocado, qualquer decisão emocional e tomada às pressas pode nos enviar de volta aos dias sombrios de incontáveis ataques suicidas dentro do território israelense”, argumentou.
André Lajst, cientista político e presidente executivo da StandWithUs Brasil, organização internacional de educação sobre Israel sem fins lucrativos, apontou que há risco de uma escalada da violência na região em abril.
“O mês de abril é geralmente marcado por muitas tensões na região por conta do Ramadã, mês no qual os mulçumanos fazem seus rituais religiosos de jejum e orações. No ano passado, as tensões se elevaram tanto que culminaram em um conflito armado entre israelenses e palestinos durante praticamente todo o mês de maio. Por isso, é preciso estar alerta a esse crescente número de atentados terroristas em Israel”, afirmou em comunicado.
Este ano gera especial atenção porque, em uma rara convergência, as datas do Ramadã, que terá início no sábado (2), do Pessach, a Páscoa judaica, e da Páscoa cristã serão no mesmo período, o que poderá levar à concentração de fieis em locais religiosos compartilhados.
Judah Ari Gross, jornalista do Times of Israel, avaliou que os três ataques recentes não aparentam terem sido coordenados, já que o Fatah se opõe ideologicamente ao Estado Islâmico e apenas o terceiro atentado teve indícios de contar com apoio de uma rede terrorista maior.
Em meio a um período relativamente calmo em Israel, a aleatoriedade e a letalidade dos ataques lembraram a Segunda Intifada, o que aumenta a sensação de insegurança, escreveu Gross.
“Em vez de fazer parte de uma campanha dirigida por uma organização terrorista, cada um dos ataques parece ter inspirado organicamente o próximo. Autoridades de segurança israelenses se referem a esse fenômeno como ‘ataque gera ataque’”, apontou o analista. “É um ciclo mortal com potencial para se transformar em violência ainda maior, que as forças de segurança israelenses têm lutado – e até agora falhado – para evitar.”