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Ditadura de Ortega

Após prisão de 13 opositores, Nicarágua exige “não interferência” de outros países

Cristiana Chamorro, pré-candidata à presidência da Nicarágua que foi detida em 2 de junho, em foto de 31 de maio (Foto: EFE/ Jorge Torres)

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A Nicarágua exigiu, na segunda-feira (14), a "não interferência de qualquer governo estrangeiro" em seus assuntos internos, alegou não ser "uma ameaça a nenhum país do mundo", e pediu o fim das sanções internacionais das quais é alvo e que ela classificou como "crime contra a humanidade" em tempos de pandemia de Covid-19.

Em uma mensagem intitulada "Nicarágua: em defesa da soberania nacional e do Estado de direito", a ditadura do país centro-americano denunciou que "um ataque implacável e sem precedentes está sendo desenvolvido contra o povo e o governo da Nicarágua, impulsionado por falsas narrativas defendidas pela imprensa de direita e figuras da oposição financiadas pelos Estados Unidos".

Essa mensagem foi divulgada em meio a apelos da comunidade internacional contra as prisões de políticos opositores no país. Em menos de duas semanas, já são 13 opositores presos, incluindo quatro pré-candidatos à presidência. Faltam cinco meses para as eleições nas quais o ditador Daniel Ortega tentará o seu quarto mandato consecutivo de cinco anos.

A prisão mais recente foi a de Víctor Hugo Tinoco, ex-vice-chanceler sandinista, que foi detido no estacionamento de um centro comercial no domingo à noite, acusado de incitar a ingerência estrangeira, pedir intervenções militares e comemorar as sanções contra membros da ditadura.

A oposição acusa o regime de tentar eliminar os rivais de Ortega nas eleições. A ditadura do líder sandinista promoveu reformas eleitorais que dificultam a participação da oposição e a observação internacional no pleito.

Nesta terça-feira, o Conselho Permanente da Organização dos Estados Americanos (OEA) realizará uma sessão virtual especial para "abordar a situação na Nicarágua", a pedido de Brasil, Canadá, Chile, Costa Rica, Estados Unidos, Paraguai e Peru.

"Não representamos uma ameaça"

"A Nicarágua está empenhada em realizar eleições gerais livres, justas e transparentes no próximo dia 7 de novembro. Neste sentido, a Nicarágua deve exigir a não interferência de qualquer governo estrangeiro, já que uma opinião ou declaração manifestada por um governo estrangeiro pode afetar a correta implementação do processo eleitoral", disse o regime nicaraguense na mensagem.

Em outubro do ano passado, a Assembleia Geral da OEA convocou o governo Ortega a realizar reformas na lei eleitoral que garantissem eleições confiáveis até maio, o que, na opinião dos oponentes locais, não aconteceu. Após os episódios recentes, a OEA disse que está considerando a suspensão do país na organização.

"Como boa vizinha e integrante digna da comunidade internacional, a Nicarágua não representa uma ameaça para nenhum país do mundo. Ao contrário, a Nicarágua sempre teve como objetivo estabelecer relações bilaterais baseadas no respeito mútuo, solidariedade e cooperação", afirma o texto.

"Aliado chave"

No documento, as autoridades sandinistas destacaram que "a Nicarágua é uma aliada chave na luta contra o tráfico de drogas e o crime organizado" e que "não contribui significativamente para a migração irregular".

Além disso, criticaram as sanções estabelecidas pelos Estados Unidos e outros países contra dezenas de familiares, empresas e associados próximos do presidente nicaraguense, supostamente envolvidos em corrupção e violações dos direitos humanos.

"A Nicarágua exige a eliminação de todas as medidas unilaterais, coercitivas e ilegais impostas a países, instituições ou indivíduos, reiterando que a aplicação de tais medidas em tempos de pandemia eleva sua ilegalidade ao nível de um crime contra a humanidade", diz a mensagem.

As únicas sanções legais, acrescentou o regime, são aquelas decretadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas.

Adversários "leais" aos EUA

A ditadura nicaraguense também manifestou seu ponto de vista sobre as prisões de opositores, destacando a da pré-candidata presidencial Cristiana Chamorro, que é a figura da oposição com maior probabilidade de ganhar as eleições de novembro, de acordo com uma pesquisa da empresa CID Gallup.

"A única coisa que este grupo de usurpadores da oposição tem em comum é sua lealdade ao governo dos Estados Unidos da América e o fato de que, diretamente ou através de suas respectivas ONGs, eles receberam milhões de dólares em dinheiro do povo americano através da USAID, NED, IRI e outras agências, com o objetivo de derrubar (o governo Ortega)", acrescenta o texto.

Cristiana Chamorro, filha da ex-presidente Violeta Barrios de Chamorro (1990-1997), é acusada de crimes de gestão abusiva e falsidade ideológica, além de lavagem de dinheiro e bens.

As eleições de novembro serão fundamentais para a Nicarágua, já que estarão em jogo 42 anos de domínio quase absoluto de Daniel Ortega sobre a política local.

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