Um dia após anunciar que interromperiam sequestros de civis e libertariam seus dez últimos "prisioneiros de guerra", as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) atacaram dois postos um da polícia e outro militar na cidade de Cardono, no departamento (estado) de Cauca, no sudoeste do país.
O secretário de Governo da cidade, Carlos Pascué, disse que a guerrilha usou morteiros e bombas na ação.
Embora não houvesse relatos sobre mortos ou feridos, alguns habitantes abandonaram as áreas mais altas do município, e outros evitaram sair de casa durante os ataques.
Na Suíça para uma reunião do Conselho de Direitos Humanos da ONU, o vice-presidente da Colômbia, Angelino Garzón, afirmou que o anúncio feito ontem no site das Farc de que deixarão de sequestrar civis como fonte de renda "não basta".
"É importante a libertação das pessoas sequestradas, mas também é preciso que cessem as ações terroristas e o uso de minas antipessoais [pelas Farc]", disse Garzón.
O Ministério da Defesa do Brasil deverá colocar à disposição do governo colombiano dois helicópteros e um avião, além de uma equipe de apoio, para a operação de soltura dos dez prisioneiros que a guerrilha prometeu libertar.
Números conflitantes
Não há certeza sobre o total de sequestrados que ainda estão em poder das Farc. Além dos dez mencionados pela guerrilha, a imprensa colombiana citou os nomes de mais dois "uniformizados" (ligados à polícia ou ao Exército) que podem ter morrido ou ainda estar em cativeiro.
O número de civis prisioneiros da guerrilha, por sua vez, é estimado em centenas. A ONG Fundación País Libre fala em pelo menos 405, para os quais não existe previsão de soltura; outra organização não governamental, a Nueva Esperanza, calcula que sejam 725 sequestrados.
Enfraquecimento
A proposta de soltar reféns é vista como tentativa das Farc de negociar em um contexto de enfraquecimento. O grupo, que teria tido até 20 mil homens em seu auge, no fim dos anos 90, estaria com 9 mil agora também esses números são de difícil verificação.
Além disso, bem-sucedidos ataques do governo nas gestões de Álvaro Uribe e Juan Manuel Santos mataram seus principais líderes.
Para o cientista político Álvaro Villarraga, diretor da Fundação Cultura Democrática, o anúncio ocorre em meio a "desconfianças muito marcadas entre as partes e de um grande ceticismo dos cidadãos". No entanto, o qualificou como um passo de "aproximação da paz". "São necessários mais passos por parte da guerrilha, que deve se comprometer com outras condições humanitárias", disse.
Fernando Giraldo, professor de Ciências Políticas na Universidade Javeriana, considera que com o anúncio "a bola fica no campo do governo, que deve facilitar as condições para as libertações e poderá enviar mensageiros, já que o fim dos sequestros era um requisito para negociar".