Apesar da rejeição e críticas de Teerã à oferta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de asilar a iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani, condenada a morte por apedrejamento por supostamente ter traído e se envolvido na morte do marido, Lula repetiu ontem que poderia recebê-la.O presidente afirmou, em reunião do Mercosul, na Argentina, que a oferta de asilo à iraniana acusada de adultério e assassinato foi "mais humanitário" do que "formal".
Mais cedo, o governo do Irã havia indicado que rejeitará a proposta de asilo político, e ainda sugeriu que o líder brasileiro é emotivo e desinformado.
"Até onde sabemos [o presidente brasileiro Luiz Inácio Lula] da Silva é uma pessoa muito humana e emocional, que provavelmente não recebeu informação suficiente sobre o caso", disse o porta-voz do Ministério de Relações Exteriores, Ramin Mehmanparast.
"O que podemos fazer é fornecer a ele os detalhes do caso desta pessoa que cometeu um crime, para que ele [Lula] possa entendê-lo", acrescentou o porta-voz iraniano.
"Primeiro, eu fico feliz que o ministro do Irã tenha percebido que eu sou um homem emocional. Eu sou muito emocional. Segundo, eu não fiz um pedido formal [de asilo à iraniana Sakineh Mohammadi Ashtiani]. Eu fiz um pedido mais humanitário, reagiu Lula durante a cúpula do Mercosul, na cidade argentina de San Juan.
"Pelo que se fala na imprensa, ou ela vai morrer apedrejada ou enforcada. Ou seja, nenhuma das duas mortes é humanamente aceitável. Por isso fiz esse apelo. Obviamente, se houver disposição do Irã em conversar sobre esse assunto, nós teremos imenso prazer em conversar e, se for o caso, trazer essa mulher para o Brasil, acrescentou Lula.
Sobre a questão de direitos humanos no Irã, o presidente brasileiro evitou fazer críticas. " Eu não conheço profundamente como funciona o Irã, o que sei é que cada país tem a sua lei, tem a sua Constituição, tem a sua religião. E nós precisamos, concordando ou não, aprender a respeitar o procedimento de cada país."
Lula fez a oferta de asilo ao presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, durante um comício eleitoral em Curitiba (PR), no sábado passado. "Eu quero fazer um apelo ao meu amigo Ahmadinejad, ao líder supremo do Irã [o aiatolá Ali Khamenei] e ao governo do Irã para permitir que o Brasil receba a mulher", afirmou Lula.
Presidente volta a criticar a ONU
Ao mesmo tempo em que insistiu na oferta de asilo à iraniana Sakineh, condenada a apedrejamento, o presidente Lula voltou ontem a criticar os países membros do Conselho de Segurança da ONU por terem aprovado, em junho, a imposição de novas sanções ao Irã. O presidente lembrou que, dias antes da votação na ONU, o regime islâmico assinou, com Brasil e Turquia, um acordo para trocar urânio enriquecido por combustível nuclear produzido no exterior.
"Qual não foi minha surpresa quando os países do Grupo de Viena, ao invés de dizerem bom, estão criadas as condições para negociações, começaram a discutir o aumento das sanções", disse Lula durante encontro do Mercosul, na Argentina.