O ativista da oposição ucraniana Dmytro Bulatov, de 35 anos, que desapareceu na semana passada, afirmou que foi sequestrado e torturado, até ser deixado numa floresta nas proximidades de Kiev na quinta-feira. Ele faz parte do AutoMaidan, um grupo de proprietários de carros que participou dos protestos contra o presidente Viktor Yanukovich, e estava desaparecido desde 22 de janeiro.
Bulatov disse que foi sequestrado, duramente espancado e pregado a uma cruz. Uma parte de sua orelha foi arrancada e seu rosto foi cortado. Ele foi mantido no escuro durante todo o tempo, o que o impede de identificar seus sequestradores. Após mais de uma semana de tortura, ele foi jogado numa floresta.
"Eles me crucificaram, pregaram minhas mãos. Cortaram minha orelha, meu rosto. Não há um ponto do meu corpo que não tenha sido espancado", disse Bulatov à emissora de televisão 5 Kanal. "Graças a Deus estou vivo." Seu rosto e suas roupas estavam cobertos por sangue e suas mãos inchadas, com marcas de pregos.
O líder opositor Petro Poroshenko foi para o hospital no qual Bulatov foi levado na noite de quinta-feira. "Dmytro pediu para transmitir suas saudações a todos e dizer que não foi nem será esmagado", disse Poroshenko aos 5 Kanal. "Ele está cheio de energia e, apesar do fato de seu corpo ter sido espancado, o espírito de Dmitry está forte."
A polícia disse que abriu uma investigação e que encontrou o carro que ele estava dirigindo quando desapareceu.
Bulatov é um dos três ativistas cujo desaparecimento chocou o país, principalmente depois que um deles foi encontrado morto. Ele desapareceu um dia depois de Igor Lutsenko, outro importante ativista da oposição, ter sido encontrado depois de ser levado para uma floresta e duramente espancado.
As autoridades negam o envolvimento nos sequestros, mas não se pronunciaram ontem sobre o caso de Bulatov.
Lutsenko foi sequestrado de um hospital, para onde havia levado um outro manifestante, Yuri Verbitsky, que tinha um ferimento no olho. Verbitsky também foi sequestrado, espancado e encontrado morto. Seu corpo estava congelado porque o espancamento o deixou incapacitado para andar até um local seguro.
Os desaparecimentos provocaram críticas de manifestantes, que acusam o governo de intimidar a oposição.
Grupo ativista trabalhou para atender feridos O grupo do ativista Dmytro Bulatov, chamado AutoMaidan, organizou comboios de carros para fazer manifestações em frente a prédios do governo e das casas de autoridades governamentais, entre elas estava a do presidente Viktor Yanukovich. Quando os confrontos se tornaram violentos, os comboios acompanhavam a movimentação dos ônibus da polícia, levavam feridos para hospitais, para que não fossem transportados pela polícia e interceptaram gangues de arruaceiros que destruíam carros. Nesta semana, Yanukovich aceitou a renúncia do primeiro-ministro Mykola Azarov. Já o Parlamento, controlado por ele, anulou as leis contra manifestações que deram início a manifestações violentas na capital do país. Um projeto de lei aprovado pelos aliados do presidente concede anistia aos manifestantes, mas apenas se eles deixarem os vários prédios governamentais que ocuparam em todo o país, exigência rejeitada pela oposição.