La Paz (AG) – Depois de uma sucessão de crises políticas desencadeadas durante o governo de Gonzalo Sánchez de Lozada (2002-2003), os bolivianos vão hoje, além de eleger um novo presidente, renovar o questionado Congresso nacional, ainda ocupado por partidos tradicionais que perderam legitimidade. A disputa principal será entre o líder dos plantadores de coca, Evo Morales, do Movimento ao Socialismo (MAS), e o ex-presidente Jorge Quiroga, da aliança Poder Democrático Social (Podemos). Todas as pesquisas indicam Morales em primeiro lugar com entre 34% e 36% dos votos. Tuto, apelido de Quiroga, seria o segundo mais votado, com cerca de 29%. No entanto, alertam analistas políticos, o resultado é imprevisível já que 10% dos eleitores estão indecisos e muitos cogitam anular seu voto.

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Pela primeira vez na Bolívia, um candidato de origem indígena tem grandes chances de chegar ao poder, num país onde 60% da população têm essa mesma origem. Caso nenhum dos candidatos alcance 50% dos votos mais um nas urnas, a decisão ficará nas mãos do novo Congresso que, após ser empossado, designaria o futuro presidente da Bolívia em janeiro, escolhendo entre os dois mais votados.

O atual presidente, Eduardo Rodríguez, abandonará o poder – que assumiu em junho passado após a queda de Carlos Mesa (2003-2005), vice de Sánchez de Lozada – em 22 de janeiro. Seja qual for o resultado, o cenário político, dominado pela polarização entre os dois principais candidatos, pode se complicar. A votação de hoje não solucionará os problemas do país. Simplesmente os empurrará com a barriga, afirmou Carlos Toranzo, um dos analistas mais importantes do país.

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No Congresso

Quiroga pode perder a eleição presidencial, mas sua aliança pode obter maioria no Senado e uma expressiva presença na Câmara. Neste caso, Quiroga, mesmo ficando em segundo lugar na eleição popular, poderia ser designado pelo Congresso. Esta possibilidade, asseguram colaboradores de Morales, criará um clima de absoluta ingovernabilidade, pois o líder cocaleiro retomaria sua política de protestos e bloquearia a economia boliviana.

Caso Morales seja designado, seu governo contaria com o apoio dos movimentos sociais do país, mas encontraria resistências no setor privado, sobretudo multinacionais e os organismos internacionais de crédito. Como se vê, o que está em jogo é bem mais que a escolha deste ou daquele nome para ocupar a Presidência boliviana.