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Tragédia

Após terremoto, Peru convoca Exército para evitar saques

Lázaro Ramos e Pedro Fonda em cena de "O Cobrador" | Divulgação/Festival de Cinema de Gramado
Lázaro Ramos e Pedro Fonda em cena de "O Cobrador" (Foto: Divulgação/Festival de Cinema de Gramado)

Após o impacto do terremoto buscar de 8 graus da escala Richter, de quarta-feira (15), que deixou no Peru mais de 500 mortos, 1.500 feridos e 85 mil desabrigados no litoral, o governo do país teme pela segurança e saúde das principais regiões afetadas.

O presidente do Conselho de Ministros, Jorge del Castillo, informou que as autoridades estão levando ajuda aos desabrigados, principalmente alimentos e água, para cobrir as primeiras necessidades. Mas reconheceu a demora na distribuição da ajuda humanitária. Ele atribuiu os atrasos nos envios aos graves danos na estrada Panamerica Sul.

Ao longo de quinta-feira, houve 35 vôos de aviões da Força Aérea, Polícia Aérea e Aviação Naval entre Lima e Pisco. A Marinha enviará à costa da cidade dois navios com água potável e um navio-hospital.

Medo de saques aumenta

Muitos desabrigados estão no estádio da cidade. O medo de saques aumentou após a informação de que 600 presos, entre eles perigosos seqüestradores, fugiram da prisão, onde um dos muros caiu durante o terremoto.

O ministro do Interior, Luis Alva Castro, afirmou, no entanto, que a maioria dos fugitivos já foi capturada. Mesmo assim, o medo continua.

Segundo informações extra-oficiais citadas pela rede de TV "América", o terremoto deixou pelo menos 510 mortos.

16.669 imóveis destruídos O Instituto Nacional de Defesa Civil (Indeci) informou que 16.669 imóveis foram destruídos nas regiões de Ica, Lima, Junín e Huancavelica. Calcula-se que Pisco perdeu 70% das suas infra-estruturas. A cidade está sem luz e a população teme seqüelas naturais e eventuais saques.

Voluntários e membros de equipes de resgate trabalham entre as ruínas para recolher os corpos, com a esperança de encontrar algum sobrevivente. No fim da tarde, duas pessoas foram resgatadas dos escombros da igreja San Clemente, no centro da cidade.

As equipes de resgate disseram que nas ruínas da igreja, que desabou durante o terremoto, ainda estar soterradas de 30 a 40 pessoas. Há poucas esperanças de encontrar mais sobreviventes.

As autoridades se dirigiram aos albergues para distribuir cobertores entre os desabrigados. O presidente peruano, Alan García, que declarou luto nacional de três dias, visitou a região da tragédia para verificar os trabalhos de resgate e de ajuda.

Depois do terremoto o Instituto Geofísico do Peru registrou cerca de 360 réplicas.

Cidade fantasma

A cidade de Pisco se transforma à noite em um lugar fantasmagórico, onde milhares de pessoas cobertas com cobertores vagam pelas ruas, acendem fogueiras nas esquinas e a tranqüilidade é arrasadora.

A localidade litorânea, cerca de 300 quilômetros ao sul de Lima, viveu sua segunda noite de escuridão, ainda sem energia elétrica.

A ajuda humanitária começou a chegar às vítimas previamente registradas pelas autoridades. Elas recebem cobertores, barracas e comida nas áreas de acampamentos.

As autoridades dizem que, até o momento, distribuíram quatro toneladas de alimentos, 300 camas, 200 colchões, 1.200 cobertores e 650 produtos de higiene.

Enquanto isso, a cidade era coberta por uma escuridão só cortada ocasionalmente por alguma fogueira acesa nas esquinas das ruas. Muitos desabrigados permaneciam em casarões, saindo às ruas quando viam passar os caminhões de ajuda humanitária rumo aos pontos determinados por um censo prévio.

Desabrigados

Um porta-voz das brigadas de apoio disse que as autoridades calculavam 25 mil desabrigados nas ruas de Pisco. Mas a realidade se encarregou de superar as projeções. E os números ainda devem crescer, já que muitas famílias se refugiaram nas colinas próximas, temendo um tsunami.

Nas ruas as pessoas não dormem. Perambulam na mais absoluta escuridão. A sensação é de calma, apesar da evidente ansiedade na hora de receber ajuda.

As avenidas principais, um dia depois do terremoto, estão livres de escombros. Mais material de auxílio deve chegar nas próximas horas.

Os arredores de Pisco dão a sensação de ter suportado bem melhor o terremoto. As suas construções são mais modernas que as do centro histórico da cidade, que leva o nome da bebida nacional dos peruanos, um fino aguardente de uva.

O centro, construído quase todo há décadas em adobe, apresenta quadras inteiras destruídas, cabos de luz caídos e muitas pessoas com o semblante cansado após duas noites em vigília. Mesmo aqueles que tiveram a sorte de ver suas casas permanecerem de pé não dormem. Acordados, observam pelas janelas enquanto suas portas permanecem fechadas.

O som de choro já calou, apesar do frio de menos de 10 graus e das pessoas que continuam ao relento.

Na praça principal permanecem dezenas de corpos retirados dos escombros. Eles também receberão em breve o auxílio das autoridades, que nos últimos vôos da ponte aérea entre Lima e Pisco enviaram sacos especiais e caixões.

Aparentemente, ainda há dezenas de corpos sob os escombros da igreja principal, que desabou, assim como num hotel e em outros dois edifícios.

Também começam a chegar as primeiras informações dos povoados andinos próximos. Eles também sofreram graves danos, e lá ainda não chegou ajuda.

Medo

Ainda abalado pelo devastador terremoto que destruiu sua cidade, o prefeito de Pisco, Juan Mendoza, relatou que durante o terremoto que atingiu o Peru na quarta-feira sentiu que sua casa "balançava como uma onda" e depois só via "gente chorando, morte e desolação".

Mendoza explicou que sua irmã mais velha morreu durante o terremoto. Ele se mantém na coordenação dos trabalhos de ajuda humanitária e resgate das vítimas.

"O terremoto foi uma coisa indescritível. Minha casa balançava como uma onda. Quando vi o que tinha acontecido a impressão foi ainda pior. Gritei como um louco, só via gente chorando, morte e desolação", descreveu.

O prefeito, que assumiu o cargo em 1 de janeiro, afirmou que, no entanto, ainda tem "muitas esperanças de encontrar sobreviventes entre os escombros". Ele baseou suas esperanças nas estimativas de que há muitas pessoas soterradas nas ruínas da igreja principal, de um hotel e outros dois edifícios que desabaram.

Na tarde de quinta-feira, as brigadas de resgate encontraram dois sobreviventes nos escombros da igreja de San Clemente. Ainda haveria de 30 a 40 pessoas no local.

Uma das pessoas feridas, Palmiña Panduro, de 39 anos, disse que o terremoto chegou com "um pequeno abalo, que confundiu todo mundo, e depois outro maior, que cortou a luz".

"Na escuridão, tentamos nos proteger, saímos de casa com tudo o que pudemos pegar para nos abrigar e peregrinamos toda a noite rumo às colinas, que estavam cheias de gente", contou.

Mãe de três filhos, ela explicou que muitos dos desabrigados decidiram ir para as colinas próximas porque temiam que o mar subisse e invadisse a cidade. "Agora não sabemos o que fazer", respondeu, ao ser perguntada sobre seu futuro.

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