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Crise migratória

Após tragédia no Canal da Mancha, França e Reino Unido trocam acusações

Imigrantes mortos no naufrágio de quarta-feira foram homenageados em Calais, na França (Foto: EFE/EPA/Mohammed Badra)

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A temperatura nas discussões sobre a crise migratória no Canal da Mancha aumentou nesta sexta-feira (26), com o presidente da França, Emmanuel Macron, pedindo em uma entrevista coletiva que o primeiro-ministro britânico Boris Johnson “levasse a sério” o assunto. Na quarta-feira (24), pelo menos 27 imigrantes morreram no naufrágio de uma embarcação no trecho.

O motivo da fúria de Macron foi uma série de mensagens publicadas na véspera por Johnson no Twitter, nas quais o britânico tornou pública uma carta com cinco sugestões para tentar resolver o problema e atribuiu à França a responsabilidade por acolher os imigrantes.

“Falei há dois dias com o primeiro-ministro Johnson de maneira séria”, disse Macron em uma entrevista coletiva nessa sexta-feira. “Da minha parte, continuo fazendo isso, como faço com todos os países e todos os líderes. Fico surpreso com métodos que não são sérios. Não nos comunicamos de um líder para outro sobre essas questões por meio de tweets e cartas que tornamos públicas. Não somos informantes”, disparou.

Em entrevista à emissora francesa BFM TV, o porta-voz do governo de Macron, Gabriel Attal, classificou a carta de Johnson como “medíocre em termos de conteúdo e totalmente inadequada na forma”. “Na prática, foi proposto um acordo de ‘transferência’ dos imigrantes, o que claramente não é o que é necessário para resolver este problema”, afirmou Attal.

Outra reação de Paris nesta sexta-feira foi retirar o convite à ministra do Interior do Reino Unido, Priti Patel, para participar de uma reunião em Calais no próximo domingo (28) sobre a crise migratória no Canal da Mancha.

No Twitter e na carta tornada pública, Johnson havia sugerido cinco ações: patrulhas conjuntas para evitar que mais barcos saiam das praias francesas; implantação de tecnologias mais avançadas, como sensores e radares; patrulhas marítimas atuando de forma recíproca nas águas territoriais dos dois países e vigilância aérea; aprofundar o trabalho da Célula de Inteligência Conjunta, com melhor compartilhamento de informações em tempo real para gerar mais prisões e processos judiciais em ambos os lados do Canal da Mancha; e discussões imediatas para um acordo bilateral de devolução dos imigrantes para a França, juntamente com negociações para estabelecer um acordo semelhante entre o Reino Unido e a União Europeia.

“Um acordo com a França para que receba de volta os imigrantes que cruzam o Canal da Mancha por esta rota perigosa teria um impacto imediato e significativo. Se aqueles que chegam a este país fossem devolvidos rapidamente, o incentivo para que as pessoas coloquem suas vidas nas mãos dos traficantes seria significativamente reduzido”, argumentou Johnson no Twitter.

“Esse seria o maior passo que poderíamos dar juntos para reduzir a atração para o norte da França e desmantelar o modelo de negócios de gangues criminosas”, acrescentou.

Neste ano, mais de 20 mil pessoas, de países como Iraque, Irã, Afeganistão e Síria, tentaram cruzar o Canal da Mancha de maneira irregular. Ao longo de todo o ano de 2020, foram menos de 10 mil imigrantes ilegais buscando realizar a travessia.

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