Considerada a Suíça da Ásia, a pequena ilha de Cingapura será o local do encontro entre o presidente americano, Donald Trump, e o ditador norte-coreano, Kim Jong-un, que até poucos meses trocavam insultos e ameaças. Marcada para o dia 12 de junho, a cúpula será a primeira entre líderes dos dois países e terá na agenda o fim do programa nuclear de Pyongyang, um objetivo ambicioso que poucos analistas consideram factível.
Trump pretende entrar para a história como o presidente americano que garantiu a paz na Península Coreana, mas a experiência anterior mostra que sua tarefa não será simples. Nos últimos 25 anos, vários governos de Washington fecharam acordos com a Coreia do Norte para suspensão de seu programa nuclear. Todos foram abandonados, enquanto Pyongyang avançava na construção de seu arsenal.
No poder desde dezembro de 2011, Kim Jong-un baseou grande parte de sua legitimidade no desenvolvimento de armas nucleares, apresentadas como uma necessidade para a sobrevivência do país diante da agressão dos EUA.
Há quase um consenso entre os analistas de que o ditador norte-coreano não abandonará suas ambições nucleares, a menos que esteja disposto a realizar uma transformação radical no país mais fechado do mundo.
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"O muito antecipado encontro entre mim e Kim Jong-un ocorrerá em Cingapura em 12 de junho. Nós vamos tentar torná-lo um momento muito especial para a paz mundial!", escreveu Trump no Twitter poucas horas depois de receber três cidadãos americanos libertados pela ditadura norte-coreana, no que interpretou como um gesto de boa vontade de Kim Jong-un.
Trump e a primeira-dama, Melania, recepcionaram o grupo no meio da madrugada, em um cenário que exaltava o patriotismo de símbolos cultivado pelo presidente. Atrás do avião que transportou os ex-prisioneiros, havia uma enorme bandeira americana suspensa por dois guindastes. Quando apareceram diante das câmeras, os três fizeram sinal da vitória com as mãos levantadas, sob aplausos de Trump e Melania. "Em nome do povo americano, bem-vindos à casa!", escreveu o presidente no Twitter.
Em entrevista, Trump classificou de "maravilhoso" o fato de os três cidadãos terem sido libertados. O desfecho contrasta com o de Otto Warmbier, o estudante que passou 17 meses em uma prisão norte-coreana, da qual saiu em coma em junho, para morrer nos EUA poucos dias depois.
"Estava subentendido que conseguiríamos ter essas pessoas incríveis durante o encontro, para trazê-las de volta para casa", disse Trump. "Ele foi amável em libertá-las antes da reunião. Quer dizer, francamente, não pensávamos que isso iria acontecer, mas aconteceu".
Quanto ao seu encontro com o ditador norte-coreano, Trump está otimista. Disse acreditar que será um "grande sucesso". Mas acrescentou que não fará um acordo a qualquer preço.
"Não vamos entrar em um acordo com o Irã, onde o negociador, John Kerry, se recusou a deixar a mesa", disse ele, provocando vaias da multidão com a menção da secretária de Estado do presidente Barack Obama, que negociou o acordo nuclear multilateral com o país de Hassan Rouhani, do qual Trump anunciou esta semana que retiraria os Estados Unidos.
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Neutralidade
Cingapura, uma pequena nação insular de 5,6 milhões de habitantes que ostenta uma das economias mais avançadas do Sudeste Asiático, fazia sentido como local da cúpula porque mantém relações diplomáticas com a Coreia do Norte, que tem uma embaixada no país. O embaixador de Cingapura, com sede em Pequim, também é responsável por Pyongyang.
"Cingapura é um local ideal para esta cúpula", disse o advogado de Reed Smith que foi embaixador dos EUA no país de 2010 a 2013 durante o governo Obama. "Desde a sua fundação, Cingapura cuidadosamente cultivou uma reputação onde o Oriente encontra o Ocidente", disse ele. "Eles se orgulham de ser amigos de todos. E fizeram um ótimo trabalho ao fazer isso".
O país tem sido o local de outras cúpulas de alto nível. É anfitrião de uma conferência anual de segurança regional chamada Diálogo de Shangri-La, que normalmente conta com a presença do secretário de defesa dos EUA e altos funcionários da China e de outras nações. Em 2015, o presidente chinês, Xi Jinping, e o então presidente de Taiwan, Ma Ying-jeou, reuniram-se em Cingapura, no que foi o primeiro encontro entre os líderes desses países em sete décadas.
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Cingapura também tem desfrutado de um relacionamento cada vez mais próximo com os Estados Unidos. Em 2012, o governo Obama definiu Cingapura como um parceiro estratégico, e os países assinaram um acordo de segurança, aprimorado em 2015. Mas Cingapura também procurou manter um bom relacionamento com os rivais dos EUA, especialmente a China, que flexibilizou suas relações econômicas e militares, já que Pequim procura expandir a influência no sudeste da Ásia.
Outra vantagem desta escolha é a relativa proximidade com Pyongyang, o que permitirá que a cidade-Estado seja alcançada pelo avião de Kim sem necessidade de escalas.
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