Estopim dos protestos que culminaram na fuga do ditador tunisiano Zine el Abidine Ben Ali na última sexta e na morte de ao menos 78 pessoas, casos de imolação foram relatados ontem em outros três países da região. Na Argélia, no Egito e na Mauritânia, foram quatro os episódios do tipo apenas ontem , gerando expectativa de que os eventos que levaram à queda de um dos regimes árabes mais estáveis se repitam nesses países.
No Cairo, um homem ateou fogo a seu próprio corpo em frente ao Parlamento, aparentemente em protesto contra política de restrição a subsídios em alimentos. Ele foi internado em um hospital com queimaduras leves. O Egito é governado desde 1981 pelo ditador Hosni Mubarak sob um regime que é comparado ao de Ben Ali.
Na Argélia, onde manifestações similares às da Tunísia ocorreram nas últimas semanas, casos de imolação foram registrados em duas cidades. Desde o sábado, há relatos de outros cinco casos.
Já na Mauritânia, um homem ateou fogo a si mesmo em protesto contra os supostos maus-tratos à sua tribo.
Em dezembro, a imolação do tunisiano de 26 anos que teve as frutas e verduras que vendia confiscadas pela falta de autorização foi o motivador do levante antigoverno. O caso do jovem, que viria a morrer, refletiu a insatisfação de ampla parcela da população com o aumento nos custos de vida e a falta de oportunidades de trabalho. O secretário-geral da Liga Árabe, Amr Moussa, exortou ontem os países da região a aprenderem lições do caso.
Novo governo
O governo interino da Tunísia estima em mais de 78 os civis mortos desde o início dos protestos e em 94 os feridos. O prejuízo foi estimado em US$ 2 bilhões. Ontem, novos confrontos foram registrados, embora menos intensos que no fim de semana.
Também ontem, o premier tunisiano Mohamed Channouchi anunciou a formação de um governo de unidade com três líderes opositores.
É a primeira vez que opositores foram chamados para fazer parte do governo. Channouchi afirmou que serão necessários seis meses para realização de eleições. Um dirigente histórico da oposição tunisiana, Moncef Marzuki, que dirige o Congresso Para a República (CPR), anunciou ontem sua candidatura na eleição presidencial.