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A ponte Tacoma Narrows, em 1940: colapso levou engenheiros a projetar estruturas mais resistentes a ventos | Creative Commons
A ponte Tacoma Narrows, em 1940: colapso levou engenheiros a projetar estruturas mais resistentes a ventos| Foto: Creative Commons
  • A plataforma Deepwater Horizon após explosão: falha de tecnologia

Desastres ensinam mais que su­­cessos. Apesar de essa ideia parecer paradoxal, ela é amplamente aceita por engenheiros. Para eles, em se tratando de tecnologia, as li­­ções amargas resultam em apren­­dizado porque a causa para determinada falha pode ser facilmente descoberta, documentada e reanalisada em busca de melhorias. Resumindo, as tragédias tecnológicas podem ser o combustível da inovação.

Não existe dúvida de que o processo de tentativa e erro para construir máquinas e indústrias tem resultado na perda de muito sangue e de milhares de vida. Isso não quer dizer que as falhas sejam de­­sejáveis. Mas, como muitos erros são inevitáveis, os engenheiros alegam que é indispensável apren­­der com eles hoje para se evitar fa­­lhas futuras.

A realidade é que as façanhas tecnológicas que definem o mundo moderno são, às vezes, resultado de eventos que alguns queriam esquecer.

"É uma grande fonte de conhecimento – e de humildade também – que algumas vezes é ne­­cessária. Ninguém deseja fracassos, mas você também não quer deixar uma boa crise ir para o li­­xo", diz Henry Petroski, um historiador de engenharia da Univer­­sidade de Duke e autor do livro Sucesso Através da Falha, publicado em 2006.

De acordo com os especialistas, esse tipo de análise irá provavelmente melhorar, por exemplo, os equipamentos e procedimentos complexos que as empresas utilizam para explorar petróleo em águas cada vez mais profundas. Eles preveem que a falha catastrófica na plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México, no dia 20 de abril (que custou 11 vidas e deu início ao pior vazamento de petróleo na história dos EUA), irá levar a progressos tecnológicos. "A indústria sabe que não pode deixar isso acontecer novamente e vai garantir que a história não se repita", diz David W. Fow­­ler, professor do curso de engenharia forense da Universidade do Texas.

Uma lição do desastre no Golfo do México é a conscientização da necessidade de melhorar o sistema de prevenção de vazamentos – dispositivos instalados acima dos poços para estancar o fluxo de petróleo em emergências, também chamados de cartolas. A cartola do poço da petroleira britânica BP falhou.

O naufrágio do Titanic, o vazamento do reator de Chernobyl, a queda do World Trade Center – todas essas tragédias forçaram en­­genheiros a resolver o que se descobriu serem falhas tecnológicas.

"Toda falha de engenharia fornece muitas lições", observa Gary Halada, professor da Universidade Estadual de Nova Iorque, que mi­­nistra um curso chamado "Apren­­dendo a partir do desastre".

Ao escrever o livro Sucesso Atra­­vés da Falha, Henry Petroski notou que "as falhas sempre nos ensinam mais sobre o propósito das coisas do que os sucessos. E é por isso que os erros geralmente le­­vam a mudanças – a coisas no­­vas e melhoradas". Um dos seus exemplos favoritos é o colapso da ponte de Tacoma Narrows, em 1940. A ponte, na época a terceira maior ponte suspensa do mundo, cruzava o desfiladeiro de Pu­­get Sound, nos arredores Tacoma, no estado norte-americano de Washington. Poucos meses após ser inaugurada, fortes ventos fizeram com que a ponte se tornasse um amontoado de cacos de concreto e metal retorcido. Não houve vítimas.

Petroski diz que o problema básico reside em falsa segurança. Durante décadas, os engenheiros haviam construído pontes suspensas sempre longas, cada uma com um projeto mais ambicioso que o da outra.

A primeira foi a Brooklyn Bridge (1883) que foi ultrapassada pela George Washington Bridge (1931) ficando atrás da Golden Gate Bridge (1937).

"Este é o motivo pelo qual o sucesso leva ao erro. Todas estas pontes estavam em atividade. O próximo passo seria construí-las com maior comprimento e mais estreitas", observa.

Equipes de investigadores es­­tudaram cuidadosamente o co­­lapso da ponte de Tacoma Nar­­rows, e os idealizadores de pontes suspensas aprenderam diversas lições. A principal foi a de sempre verificar se o peso e a espessura da estrada são suficientes para evitar problemas causados por ventos fortes.

"Tacoma Narrows mudou a forma como as pontes suspensas eram construídas. Antes dela, os engenheiros não levavam o fator vento a sério", ressalta Petroski.

Outro exemplo de lição a partir de um desastre é a plataforma de exploração de petróleo Ocean Ranger. Em 1982, a plataforma, na época a maior do mundo, virou e afundou na costa canadense durante uma forte tempestade de inverno, matando 84 trabalhadores. A calamidade está detalhada no livro Inviting Disas­­ter: Lessons from the Edge of Tech­­nology, de James R. Chiles.

A plataforma, maior do que um campo de futebol e com 15 andares de altura, possuía oito pernas ocas. No fundo se localizavam várias embarcações que a equipe poderia encher com água do mar ou bombeá-la para fora, elevando a plataforma acima das altas ondas causadas em caso de uma tempestade.

Na noite em que a plataforma virou, o mar destruiu uma escotilha da sala de controle de uma embarcação e a água provocou pane no painel elétrico. Os peritos descobriram que o curto-circuito que seguiu após o incidente de­­sencadeou uma série de falhas e erros de cálculo que resultaram no naufrágio da plataforma.

As lições aprendidas com a tragédia incluem instalar proteções de tempestade em janelas de vi­­dro, equipar todos os trabalhadores de uma plataforma com coletes infláveis e repensar certos as­­pectos da arquitetura da plataforma.

Engenheiros forenses dizem que ainda é muito cedo para di­­zer o que aconteceu com a Deep­­water Horizon, no Golfo do Méxi­­co. Eles observaram que várias agências federais estão envolvidas nas in­­vestigações e que o presidente Ba­­rack Obama designou que uma comissão fizesse recomendações sobre como reforçar a supervisão federal em plataformas petrolíferas.

Os engenheiros defendem que as descobertas da investigação irão por fim aperfeiçoar a arte de realizar perfurações em águas profundas em busca de petróleo – ao menos até a próxima tragédia inesperada, e a próxima lição de como tornar a tecnologia mais segura.

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