Desastres ensinam mais que sucessos. Apesar de essa ideia parecer paradoxal, ela é amplamente aceita por engenheiros. Para eles, em se tratando de tecnologia, as lições amargas resultam em aprendizado porque a causa para determinada falha pode ser facilmente descoberta, documentada e reanalisada em busca de melhorias. Resumindo, as tragédias tecnológicas podem ser o combustível da inovação.
Não existe dúvida de que o processo de tentativa e erro para construir máquinas e indústrias tem resultado na perda de muito sangue e de milhares de vida. Isso não quer dizer que as falhas sejam desejáveis. Mas, como muitos erros são inevitáveis, os engenheiros alegam que é indispensável aprender com eles hoje para se evitar falhas futuras.
A realidade é que as façanhas tecnológicas que definem o mundo moderno são, às vezes, resultado de eventos que alguns queriam esquecer.
"É uma grande fonte de conhecimento e de humildade também que algumas vezes é necessária. Ninguém deseja fracassos, mas você também não quer deixar uma boa crise ir para o lixo", diz Henry Petroski, um historiador de engenharia da Universidade de Duke e autor do livro Sucesso Através da Falha, publicado em 2006.
De acordo com os especialistas, esse tipo de análise irá provavelmente melhorar, por exemplo, os equipamentos e procedimentos complexos que as empresas utilizam para explorar petróleo em águas cada vez mais profundas. Eles preveem que a falha catastrófica na plataforma Deepwater Horizon no Golfo do México, no dia 20 de abril (que custou 11 vidas e deu início ao pior vazamento de petróleo na história dos EUA), irá levar a progressos tecnológicos. "A indústria sabe que não pode deixar isso acontecer novamente e vai garantir que a história não se repita", diz David W. Fowler, professor do curso de engenharia forense da Universidade do Texas.
Uma lição do desastre no Golfo do México é a conscientização da necessidade de melhorar o sistema de prevenção de vazamentos dispositivos instalados acima dos poços para estancar o fluxo de petróleo em emergências, também chamados de cartolas. A cartola do poço da petroleira britânica BP falhou.
O naufrágio do Titanic, o vazamento do reator de Chernobyl, a queda do World Trade Center todas essas tragédias forçaram engenheiros a resolver o que se descobriu serem falhas tecnológicas.
"Toda falha de engenharia fornece muitas lições", observa Gary Halada, professor da Universidade Estadual de Nova Iorque, que ministra um curso chamado "Aprendendo a partir do desastre".
Ao escrever o livro Sucesso Através da Falha, Henry Petroski notou que "as falhas sempre nos ensinam mais sobre o propósito das coisas do que os sucessos. E é por isso que os erros geralmente levam a mudanças a coisas novas e melhoradas". Um dos seus exemplos favoritos é o colapso da ponte de Tacoma Narrows, em 1940. A ponte, na época a terceira maior ponte suspensa do mundo, cruzava o desfiladeiro de Puget Sound, nos arredores Tacoma, no estado norte-americano de Washington. Poucos meses após ser inaugurada, fortes ventos fizeram com que a ponte se tornasse um amontoado de cacos de concreto e metal retorcido. Não houve vítimas.
Petroski diz que o problema básico reside em falsa segurança. Durante décadas, os engenheiros haviam construído pontes suspensas sempre longas, cada uma com um projeto mais ambicioso que o da outra.
A primeira foi a Brooklyn Bridge (1883) que foi ultrapassada pela George Washington Bridge (1931) ficando atrás da Golden Gate Bridge (1937).
"Este é o motivo pelo qual o sucesso leva ao erro. Todas estas pontes estavam em atividade. O próximo passo seria construí-las com maior comprimento e mais estreitas", observa.
Equipes de investigadores estudaram cuidadosamente o colapso da ponte de Tacoma Narrows, e os idealizadores de pontes suspensas aprenderam diversas lições. A principal foi a de sempre verificar se o peso e a espessura da estrada são suficientes para evitar problemas causados por ventos fortes.
"Tacoma Narrows mudou a forma como as pontes suspensas eram construídas. Antes dela, os engenheiros não levavam o fator vento a sério", ressalta Petroski.
Outro exemplo de lição a partir de um desastre é a plataforma de exploração de petróleo Ocean Ranger. Em 1982, a plataforma, na época a maior do mundo, virou e afundou na costa canadense durante uma forte tempestade de inverno, matando 84 trabalhadores. A calamidade está detalhada no livro Inviting Disaster: Lessons from the Edge of Technology, de James R. Chiles.
A plataforma, maior do que um campo de futebol e com 15 andares de altura, possuía oito pernas ocas. No fundo se localizavam várias embarcações que a equipe poderia encher com água do mar ou bombeá-la para fora, elevando a plataforma acima das altas ondas causadas em caso de uma tempestade.
Na noite em que a plataforma virou, o mar destruiu uma escotilha da sala de controle de uma embarcação e a água provocou pane no painel elétrico. Os peritos descobriram que o curto-circuito que seguiu após o incidente desencadeou uma série de falhas e erros de cálculo que resultaram no naufrágio da plataforma.
As lições aprendidas com a tragédia incluem instalar proteções de tempestade em janelas de vidro, equipar todos os trabalhadores de uma plataforma com coletes infláveis e repensar certos aspectos da arquitetura da plataforma.
Engenheiros forenses dizem que ainda é muito cedo para dizer o que aconteceu com a Deepwater Horizon, no Golfo do México. Eles observaram que várias agências federais estão envolvidas nas investigações e que o presidente Barack Obama designou que uma comissão fizesse recomendações sobre como reforçar a supervisão federal em plataformas petrolíferas.
Os engenheiros defendem que as descobertas da investigação irão por fim aperfeiçoar a arte de realizar perfurações em águas profundas em busca de petróleo ao menos até a próxima tragédia inesperada, e a próxima lição de como tornar a tecnologia mais segura.
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