A aprovação popular ao presidente do Chile, Sebastián Piñera, caiu ao menor nível registrado nos vinte anos do atual regime democrático no país, segundo uma pesquisa divulgada na quinta-feira, em meio a uma onda de protestos que colocou o governo sob pressão.
Enquanto estudantes travavam confrontos com a tropa de choque da polícia no centro de Santiago, o instituto CEP divulgou que apenas 26 por cento dos chilenos aprovam o governo do bilionário presidente conservador, no cargo há um ano e meio.
Piñera foi eleito com a promessa de gerir o governo como uma empresa, e nomeou um ministério repleto de tecnocratas. Mas seu mandato tem sido marcado por protestos, às vezes violentos, contra as políticas para educação, meio ambiente e mineração.
O Chile continua sendo um dos exemplos econômicos mais positivos da América Latina, atraindo grandes investimentos, mas muitos chilenos se sentem alheios ao milagre econômico proporcionado pelo alto preço do cobre.
Para o cientista político Patrício Navia, da Universidade de Nova York, a impopularidade de Piñera fará com que ele tenha dificuldades para aprovar projetos, inclusive reformas do mercado de capitais que permitiriam ao Chile competir com o Brasil como polo econômico regional.
Graças à firmeza das instituições chilenas, a conclusão do mandato de Piñera, que vai até 2014, não parece em risco. Mas Navia acha que "as pessoas vão começar a falar em quem vai ser o próximo presidente, e isso vai fazer de Piñera meio que um 'pato manco'."
Nas últimas semanas, centenas de milhares de pessoas -- principalmente estudantes pleiteando ensino público melhor e mais barato -- realizam protestos em Santiago e outras cidades, nas maiores manifestações populares no país desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-90).
"O governo é mentiroso. Só quer tirar lucro da gente", disse na quinta-feira o manifestante Matías Moreno, universitário de 17 anos, segurando um limão que serve para atenuar os efeitos do gás lacrimogêneo.
Funcionários da estatal de cobre Codelco também estão mobilizados contra uma reformulação administrativa, e a inquietação social motivou os trabalhadores da gigantesca mina privada Escondida, a maior do mundo, a entrarem em greve por melhores salários.
Piñera já teve de recuar de uma promessa de campanha de permitir investimentos privados na Codelco. Para agradar aos estudantes, ele prometeu uma verba de 4 bilhões de dólares para o ensino superior - mas os manifestantes dizem que isso é insuficiente.
A posse de Piñera, em 2010, encerrou 20 anos de mandatos consecutivos da Concertação, uma coalizão de centro-esquerda. Fragmentada, a oposição não consegue capitalizar a impopularidade do presidente, e a pesquisa da CEP mostrou que apenas 17 por cento aprovam a atuação da Concertação.