A votação voluntária que precisava de 25% de apoio do eleitorado uruguaio para que fosse convocado um referendo sobre a legalização do aborto, em outubro, conseguiu apenas 8,88% dos votos, segundo os dados oficiais com 99,77% dos sufrágios apurados.

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Segundo o último relatório da Corte Eleitoral em seu site, no domingo 234.670 pessoas compareceram às urnas, quando eram necessárias, no mínimo, 655 mil pessoas, um quarto do total do censo eleitoral.

Pouco depois do fechamento dos colégios eleitorais e ao serem divulgadas as primeiras estimativas de voto, tanto os promotores da iniciativa como as organizações pró-aborto expressaram ontem à noite, respectivamente, sua decepção e alegria através de comunicados e contatos com a imprensa.

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O deputado opositor Pablo Abdullah, impulsor do "ato de adesão", como se denomina legalmente esta classe de votação no Uruguai, assumiu o fracasso, mas disse receber o golpe com "serenidade e tranquilidade".

Abdullah afirmou que para ele "já é uma satisfação" ter estabelecido uma "instância para que o povo tivesse a oportunidade de ser decidido".

Segundo o parlamentar, "não se deve tomar esta convocação de hoje como um pronunciamento definitivo da cidadania", embora "esteja claro que pelo o que resta deste período de Governo", 2010-2015, vai ser "difícil que este tema possa ser repensado".

"No futuro, a sociedade decidirá se o debate deve ser reaberto ou não", acrescentou.

No outro extremo, as organizações pró-aborto "Cotidiano Mulher" e "Mulher e Saúde no Uruguai" (MYSU) se disseram felizes com o resultado, que qualificaram de "lição" para os contrários ao tema.

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O "Cotidiano Mulher" disse que os cidadãos provaram hoje que são "mais livres, menos conservadores, mais iguais, menos despóticos, mais solidários e respeitosos que nunca".

O Uruguai "decidiu, mais uma vez, respeitar o direito das mulheres de serem donas de seu corpo. Que a maternidade e paternidade sejam escolhidas e todos os filhos, desejados", acrescentou.

A MYSU disse que "a sociedade uruguaia demonstrou ser madura". No entanto, a organização advertiu também que "a discussão sobre o aborto no Uruguai não começa nem termina" aqui, pois "a prática do aborto existiu e existe na sociedade uruguaia muito mais do que a opinião pública tenha se dado conta".

O "ato de adesão" deste domingo foi convocado depois que os opositores à descriminalização do aborto conseguiram coletar neste ano mais de 52 mil assinaturas (2% do censo eleitoral) para pedir a consulta popular.

A legalização do aborto foi aprovada em outubro no Parlamento e em janeiro, as autoridades informaram que em seu primeiro mês de aplicação, permitiu a realização de 200 abortos legais.

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Antes da legislação ser aprovada, estimava-se que no país eram praticados mais de 30 mil abortos anuais, segundo números oficiais, embora na realidade esse número poderia ser o dobro, de acordo com ONGs.