Mulher em Istambul segura folheto de campanha do atual presidente, Recep Erdogan, em frente a outdoor com propaganda do oposicionista Kemal Kilicdaroglu| Foto: EFE/EPA/SEDAT SUNA
Ouça este conteúdo

A Turquia realizou neste domingo (14) a sua eleição mais importante e acirrada desde que Recep Erdogan chegou ao poder, há 20 anos. Até o meio da madrugada de segunda-feira (15, horário local), não havia um resultado consolidado, mas a indicação era que a disputa iria para o segundo turno, com data reservada para 28 de maio.

CARREGANDO :)

Atual presidente, Erdogan tinha 49,35% dos votos contra 44,98% de Kemal Kilicdaroglu, líder do Partido Popular Republicano, o CHP, com 97,87% dos votos apurados, segundo informações da agência estatal Anadolu.

O CHP acusou a agência de não publicar dados confiáveis, mas um boletim da autoridade eleitoral turca, divulgado quando 92% dos votos haviam sido apurados, apresentou porcentagens parecidas.

Publicidade

Kilicdaroglu acusou o Partido Justiça e Desenvolvimento (AKP), de Erdogan, de atrasar a apuração com exigências de recontagens, especialmente em redutos da oposição, como a capital do país, Ancara, e Istambul.

“É um assunto sério. Que venham os votos e o resultado seja conhecido o mais rápido possível. O país não pode mais tolerar incertezas. Não tenham medo da vontade da nação”, disse o líder da oposição.

O atual presidente, por sua vez, declarou em Ancara que ainda acreditava numa vitória em primeiro turno. “Acreditamos que vamos terminar esta votação com mais de 50% dos votos”, disse Erdogan.

Líder da oposição

Kilicdaroglu, parlamentar na Assembleia Nacional turca desde 2002, conseguiu articular uma ampla aliança de partidos opositores, mas nunca foi eleito para um cargo no Executivo. Ele foi vice-presidente da Internacional Socialista entre 2012 e 2014.

Kilicdaroglu prometeu durante sua campanha que, caso seja eleito, vai promover uma abertura política na Turquia, após 20 anos de governo Erdogan.

Publicidade

“Vamos satisfazer o anseio das pessoas por democracia. Essa é a maior mudança e não será vista apenas aqui na Turquia, mas em todo o mundo. Vamos trazer a verdadeira democracia para este país”, disse, em entrevista à DW.

Ele também prometeu uma maior aproximação com o Ocidente. “Somos membros da OTAN. Também somos um país que se candidatou à adesão à União Europeia”, afirmou o candidato oposicionista, que mencionou também as relações com a Rússia, de quem a Turquia comprou armas antes da guerra na Ucrânia.

“É claro que gostaríamos de ter boas relações com a Rússia. Temos muitos empresários trabalhando lá. Mas não achamos que a invasão da Ucrânia pela Rússia seja certa e não aceitamos isso”, apontou Kilicdaroglu.

Antes da votação deste domingo, Kilicdaroglu acusou a Rússia de interferir na eleição turca, e Erdogan alegou que a oposição trabalha com o presidente americano, Joe Biden, para derrubá-lo.

Domínio de duas décadas

Erdogan governa a Turquia desde 2003, a princípio como primeiro-ministro (2003-2014) e depois como presidente. Líder do AKP, ele promoveu uma aproximação entre religião e Estado (em contraponto ao secularismo defendido pelo CHP) e uma deterioração democrática da Turquia, com aumento de prisões, de autoritarismo e da censura.

Publicidade

Além da postura autoritária, a popularidade de Erdogan, que havia vencido a eleição presidencial de 2018 em primeiro turno, erodiu por outros motivos.

Após o terremoto de fevereiro deste ano no país e na Síria, que matou quase 51 mil pessoas apenas na Turquia, seu governo foi criticado por ter, em 2018, aplicado uma anistia para obras irregulares (a fragilidade das construções turcas amplificou a letalidade do terremoto deste ano, segundo especialistas) e pela resposta de emergência claudicante após o sismo.

Outra razão para a queda da sua popularidade foi a inflação, que atingiu em outubro 85%, o maior patamar interanual em 25 anos. Erdogan foi muito criticado pela sua interferência no banco central turco para que cortasse taxas de juros. A inflação diminuiu nos meses seguintes, mas segue alta: o índice interanual ficou em 44% em abril.

Na política externa, a Turquia se distanciou da Europa e passou a focar no Oriente, incluindo uma intervenção na guerra civil da Síria, operações militares no Iraque e apoio ao Azerbaijão no conflito com a Armênia.

Erdogan causou constrangimento internacional ao anunciar que negaria os pedidos de Suécia e Finlândia para entrar na OTAN, apresentados depois que a Rússia invadiu a Ucrânia, em fevereiro do ano passado. O aval turco é necessário porque a aliança militar ocidental só aceita novos membros se houver unanimidade entre os países que já a integram.

Publicidade

O presidente turco alegou que os dois países nórdicos não atenderam a pedidos de extradição de pessoas que Ancara considera terroristas, especialmente curdos, e pediu que ambos suspendessem o embargo de armas que haviam imposto à Turquia em 2019 após a incursão turca no norte da Síria (reivindicação que foi atendida).

Em abril, a Finlândia entrou na OTAN, mas Ancara segue se opondo à entrada da Suécia porque alega que Estocolmo ainda não atendeu a todas as demandas de segurança turcas.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]